Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios.
Suave é viver só
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
(Ricardo Reis)
Para qualquer hora sem hora marcada. Um espaço pessoal e de partilha variada. Com deambulações poéticas pelo meio e todo o género de afins. Desentorpecid(a)mente.
Friday, November 28, 2014
Wednesday, November 26, 2014
conhecimento 1 - ego 0
E, a propósito de um texto de um amiga, sobre a espiritualidade em cada um de nós, cheguei a esta bela frase do Einstein:
Friday, November 21, 2014
fugir do que mais se precisa.
Desafio: o que é?
desafio | s. m.
1ª pess. sing. pres. ind. de desafiar
de·sa·fi·o
substantivo masculino
1. Acto de desafiar.
2. Provocação.
3. Porfia.
4. Despique.
5. Jogo, peleja, partida.
6. [Brasil] Folguedo sertanejo em que se canta e dança ao desafio.
"desafio", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/desafio [consultado em 21-11-2014].
O YOGA, no seu sentido mais lato, pode ser muita coisa, entre
uma forma de estar e de viver mais disponível, consciente e desperta. De mente
e coração abertos, um caminho de auto-conhecimento para quem “não tem pressas”,
como costuma uma amiga inspiradora. Pode ser um desafio constante e arrisco-me
a dizer que deverá sempre sê-lo (como tanta coisa na vida!), se nunca perdermos
a humildade em querer aprender mais e a conhecermo-nos um bocadinho
melhor.
O denominado HATHA YOGA, que usa o corpo como o veículo para
atingir outro estado, quiçá, uma determinada elevação espiritual que visa a união entre mente e corpo (tantas
vezes tão distante, dado tantos estímulos nos tempos velozes que vivemos) compreende
técnicas como a prática de asana (posturas físicas), pranayama (exercícios de
respiração) e krya (exercícios de purificação dos órgãos/corpo). No Ocidente, e
porque a palavra “Yoga” se banalizou de tal maneira a que se confunda e limite
a origem da mesma à prática de um conjunto de exercícios físicos, por vezes,
nem sempre é fácil conseguir desconstruir essa mesma ideia. Como tal, e pela
proliferação da ideia do Yoga enquanto prática meramente física, à luz do Ocidente, há muito que se tornou “moda”
adoptar-se técnicas de determinadas escolas, como que religião. O Yoga pode,
sem dúvida, ser a nossa religião. Que o seja. Desde que consciente e humilde,
sem fanatismos de outra ordem à mistura. Como tudo, em prol do equilíbrio e sem
violentações de qualquer espécie (ou referindo um dos princípios éticos, em sânscrito, praticando a não-violência, “ahimsa”).
E, como em tudo na vida, tendemos a descobrir e experimentar as
coisas e, depois, à medida da nossa aprendizagem, continuamos a percorrer o
nosso caminho, para que a evolução aconteça e seja algo não estanque, preferencialmente.
Como tudo que é impermanente, também o nosso estado perante as coisas o é.
É natural que quando iniciamos determinada caminhada, o façamos
porque faz sentido para nós, com determinadas pessoas porque faz sentido para
nós, em certo momento da nossa vida porque faz sentido para nós. Tudo porque
algo faz sentido para nós, mas mesmo
quando não o faz nesse preciso momento, ou seja, mesmo quando não percebemos o
porquê, mas apenas sentimos que precisamos de o fazer, há um sentido nessa
intenção, ainda que desconheçamos ou compreendamos a verdadeira essência do
acto. Quando comecei o meu percurso com o meu antigo professor de yoga, fez e
fazia todo o sentido. Aprendi muito com ele, gostava das aulas, inspirava-me,
deixava-me a pensar... Foi uma pessoa que me introduziu ao Yoga de uma forma
marcante, quer pelas práticas, quer pela própria personalidade. Mas, da mesma
forma que vamos mudando durante a nossa vida, quer hábitos, quer comportamentos
quando percebemos que está na altura, caso tenhamos energia e disponibilidade
para tal (ainda que entre a percepção e a acção possa, por vezes, existir um
grande hiato temporal), também nas nossas práticas pessoais, sentimos
necessidade de mudar algo. Não significa que deixemos de gostar de X ou Y,
neste caso, da pessoa em si. Da pessoa que nos inspirou, que nos marcou. Já
somos nós a mudar internamente e o que numa altura fazia sentido, pode deixar
de o fazer, ou simplesmente, podemos precisar de outra abordagem. Para que aquilo
que julgamos ser a nossa aprendizagem possa continuar. E não há nada de errado
com isso, desde que sejamos sinceros connosco, com o que sentimos. E,
naturalmente, as coisas mudam perante as próprias mudanças em si, ou seja, há
desafios, há novos códigos comportamentais, há novos processos a
desenrolarem-se, há todo um novo mundo para descobrir e aprender a estar.
Quando se está habituado a práticas vigorosas, ou quando se
passa vários anos a praticar num determinado registo, é natural que quando
confrontados com outro género/estilo de prática, nos sejam colocados alguns
desafios. Também as reacções vão variar em função da pessoa. Uns ficarão
entusiasmados em experimentar outra coisa, outros ficarão reticentes, outros
poderão mesmo sentir-se desconfortáveis e questionar o que estarão ali a fazer.
Quando orientava aulas para crianças, nunca me foi perguntado em momento algum
que “estilo/género” de Yoga praticava. Isso mudou quando passei a dar aulas a
adultos. Tal como em tudo na vida, quando crescemos, aprendemos a usar filtros
(e tantas vezes lá vai o imaginário!) em muitos aspectos da nossa vida. Esses mesmos filtros que nos protegem em
muitas situações, também nos limitam as experiências, e se só conseguirmos ver a
vida através deles e nunca os mudarmos podem impedir a nossa (tão necessária!) adaptação. Com a
minha amiga inspiradora e actual professora de Yoga tenho aprendido muita coisa
e estou, constantemente, a ser desafiada. E além da prática e das aulas,
durante o curso que continuo a fazer com ela, além da aprendizagem contínua, os
momentos acabam por se transformar em reflexões que nos acompanham porta fora.
Quando, agora, me perguntam que género de yoga pratico ou oriento, deixo as
pessoas falar e depois respondo apenas, “Hatha yoga”. Esta necessidade de
engavetar tudo é muito cultural, demasiado ocidental, até, mas acima de tudo,
acaba por ser típico do ser humano. Perante perguntas deste género, a partir do
momento em que se responde “Hatha” yoga, além de nos salvaguardarmo-nos,
rejeitamos subtilmente a discussão acerca dos géneros e tipos de Yoga que
percorrem o mundo, uma vez que HATHA engloba qualquer espécie praticada. É o
yoga do corpo. Curiosamente, são as pessoas que perguntam este género de
coisas, que não chegam a perceber a resposta. Pensam que “hatha yoga” é mais
outro estilo.
Infelizmente, imensos
praticantes desvalorizam toda e qualquer prática que não seja vigorosa. É impressionante
como nós fugimos daquilo que mais precisamos. Como sabemos tão bem na teoria e
na prática, mas nem sempre o conseguimos reconhecer, admitir e aceitar...! Contra
mim falo, que até há pouco tempo, também me custavam as aulas mais meditativas
e se não fizesse uma prática mais power,
parecia não sentir que estivesse a praticar verdadeiramente (o que quer
que isso fosse e que eu lhe chamava yoga! Também o é, mas Yoga não se resume a
encaixar asanas um atrás dos outros…). Lá está, o asana é apenas UMA das técnicas contempladas pelo Yoga. E o
pranayama? Os kryas? São outras técnicas do HATHA yoga que, como já referido
acima, é o yoga do corpo. Compreendo os argumentos da necessidade do esforço e
auto-superação como máximas de determinadas escolas que nada mais fazem do que
interpretar e reproduzir o que apreenderam do Oriente. Mas, como todas as
interpretações e adaptações, sofrem sempre alterações e respondem, acima de tudo,
às necessidades e ambientes onde se instalam. E, claramente, que não podemos
comparar os estímulos e locais onde vivemos aos do Oriente mas, rejeitar
agressivamente um desafio como por exemplo, uma prática mais meditativa em prol
do equilíbrio, por estarmos habituados a suar durante uma sequência de asanas,
parece-me ser tudo menos yoga. Yoga não é marketing, nem apenas suor. Tentar pôr a mente a suar parece-me mais árduo do que o corpo.
O desafio é sempre algo que nos retira da zona de conforto. E,
atrever-me-ia a dizer que quando os resultados não são tão imediatos, quando
parecem mais invisíveis aos olhos e mais próximos do coração e do espírito (ou
de algo que lhe possam preferir chamar), o ser humano tende a fugir deles.
Apesar de sermos emoções e sensações, valorizamos demasiadamente a vista e o
ego. O nosso umbigo gosta de ver, preferencialmente, tudo o que apareça mais
rapidamente. Temos muita pressa por aqui. E o yoga não é, definitivamente, para
quem tem pressa.
Tuesday, November 11, 2014
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