Friday, December 30, 2016

Amor e Magia :)

das coisas que arrepiam sempre.
a maravilharem-nos desde 1995.



Um 2017 cheio de AMOR... para que a Magia aconteça, sempre. :)


Monday, November 28, 2016

pudesse.

pudesse explicar a forma das coisas
e as coisas existiriam por si mesmas,
sem a palavra entrar e distorcer
a possível forma das coisas.
pudesse ouvir a interpretação das coisas
e as coisas planavam pela própria existência,
sem a existência do subjectivo,
da significância atribuída pelo torpor acelerado
da atribuição do significado.
pudesse a pragmática coexistir na ausência
e a semântica das coisas perder-se-ia na interpretação.
pudesse a existência existir sem ser
e a palavra ficaria aqui,
ausente de toda a carga que lhe atribuímos;
e as coisas ficariam por si,
puras, as coisas.
as coisas da pureza são puras só por si,
sem sistemas e descodificações do sentir,
onde a identificação com o dual não deixa espaço
para o pleno, para o existir sem existência.
onde os átomos se desdobram
nas formas simples das coisas.
pudesse aceitar a forma das coisas
e as coisas existiram por si mesmas.

Mora
21h15, 28 Nov. 2016

Friday, November 25, 2016

Do you remember we are dying?

Ask yourself these two questions: Do I remember at every moment that I am dying, and that everyone and everything else is, and so treat all beings at all times with compassion? Has my understanding of death and impermanence become so keen and so urgent that I am devoting every second to the pursuit of enlightenment.

(...)

Western laziness consists of cramming our lives with compulsive activity, so that there is no time at all to confront the real issues.

Sogyal Rinpoche

Tuesday, November 15, 2016

menina.

que música linda. 
que poema bonito.



Menina assenta o passo
sem medo ou manha,
ou muito te passa da vida.
Tem que a ver quem faça
o que muito queira.
Caminha sem falsa fascinação.

O teu coração
ainda pára,
forçando a apatia p'lo medo de dançar.
Não se avista um dia
em que o ego não destrate
uma mais bela parte
escondida em ti.

Menina sê quem passa p'ra lá da ideia.
Quem muito se pensa fatiga.
Nem vais ver quem são,
seus olhos no chão,
os que andam p'ra ver-te vencida a ti.

O teu coração
sem querer dispara
força e simpatia ao Ser que te vê dançar.
Vai chegar o dia em que o medo não faz parte
e, por muito que tarde, esse dia é teu.

Desfaz o Nó,
destrava o pé,
desmancha a traça e avança.
Chocalha o chão,
esquece os que estão,
rasga o marasmo em ti mesma.

Vê corações,
na cara que pões,
vira do avesso esse enguiço.
Desamordaça a dança pra te convencer.

O teu coração
sem querer dispara
força e simpatia ao Ser que te vê dançar.
O teu coração ainda pára,
forçando a apatia p'lo medo de dançar.

--
Márcia e Samuel Úria

Friday, October 28, 2016

desconstruir a meditação.

Brilhante. Tão "simples". E porque... meditação não é aquele clichê de super-mega-hiper-concentração/abstracção, em posição de lótus e añjali mudrã/ :)


Monday, October 24, 2016

Tuesday, October 4, 2016

Friday, September 30, 2016

Uma coisa é o amor, outra é a relação.

Uma coisa é o amor, outra é a relação. Não sei se, quando duas pessoas estão na cama, não estarão, de facto, quatro: as duas que estão mais as duas que um e outro imaginam.

Paulo Lobo Antunes (2004)

Wednesday, September 28, 2016

mindfulness, um super poder.

Incrível, penso que esta animação acerca do poder transformador do "mindfulness" chegou através de uma newsletter do Ekhart Yoga. Estas animações estão incrivelmente bem feitas, altamente sucintas e bastante bem explicadas... Lembram-se de uma a falar da empatia?

Esta fala do super poder que é conseguir praticar "mindfulness".



Thursday, August 25, 2016

"Vê moínhos? São moinhos. Vê gigantes? São gigantes."

A trovoada acontece.
Ocorre.
Vai passando, vai ocorrendo. Passa. Tudo passa.

Até o Agosto mais quente pode ter as nuvens mais cinzentas prontas a libertar. E como sabe bem libertar.
E a trovoada deste Agosto traz-nos, por vezes, trovoada dentro de nós. Mas... Tudo passa... Da mesma forma que as formas que os nossos olhos vêem num dia são diferentes noutro dia. Ou diferentes das dos outros. Para uns são moínhos, para outros são gigantes.

... ... ...

IMPRESSÃO DIGITAL

Os meus olhos são uns olhos,
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem lutos e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.

António Gedeão
            In Movimento Perpétuo (1956)

Friday, August 12, 2016

as palavras pequenas servem para conversar.


"Os grandes conhecimentos crescem demasiado, caindo rapidamente por terra; os pequenos conhecimentos crescem lentamente, mas não caem. As palavras grandes acabam em chamas e incendeiam tudo à volta; as palavras pequenas servem para conversar."

[in "a borboleta voando o vazio", Chuang Tzu e Lié Tzu]





Tuesday, August 9, 2016

o meu Tio.

o meu Tio.

O meu Tio era um Homem com “H” maiusculado.
Um homem de raça, beirão que era, latinista e do mundo.
O meu tio era o Meu tio. O meu tio será sempre o Meu Tio.
Também era meu Padrinho.
O meu tio gostava de barcos, de pessoas, de justiça e de poesia.
Falava a mais alta linguagem de todas: a da Humanidade e da Compaixão.
Era um homem de letra Grande, das Letras e do Direito.
Usava canetas que ainda hoje utilizo e baixava os olhos nas suas leitura, dando um jeito ligeiro aos lábios quando se entusiasmava.
Falava com voz firme e assertiva, de coração doce e olhos penetrantes.
Brilhavam de entusiasmo, de amor, de justiça.
O meu tio era um homem bom. Vivia desprendido apesar da matéria toda à volta.
O meu tio chamava-se João e no meu coração
vive todos os dias.

O meu tio João.

(Mora / 28 Julho 2016)

Gosto de abraçar árvores, falar com elas e com as nuvens. 
E gosto de me sentir mais próxima com quem partiu daqui, com quem já está noutro plano. 
As árvores e as nuvens são extensões da mãe Terra e do pai Céu. 
E cada abraço é uma brisa sussurrante no coração.


E que bom que é abraçar árvores!

Monday, August 8, 2016

Turrell é "luz e contemplação"

mais uma partilha de um amigo. e que bom que é poder partilhar coisas boas.
disse me q admira imenso o trabalho artístico de James Turrell, principalmente no q diz respeito à "luz e contemplação"

"James Turrell's explorations in light and space impact the eye, body, and mind with the force of a spiritual awakening. Informed by his studies in perceptual psychology and optical illusions, Turrell's work allows us to see ourselves "seeing."


Monday, August 1, 2016

Flâneur, a respigar o Belo.




           E que bom que é chegar à mais bela livraria da cidade do Porto, a Flâneur, e ter lá estas (entre muitas outras!) belezas à espera. A Cátia e o Arnaldo conhecem-nos, conhecem o nosso imaginário e pensam, carinhosamente, em cada uma das expectativas, vontades e necessidades.
            A Cátia e o Arnaldo são a prova de que as livrarias continuam a existir enquanto lugares de sonho, contemplação e vivência. São o tempo e o espaço do leitor, mais do que isso, são as pessoas amigas que, genuína e verdadeiramente, cuidam do mundo interior de todos, onde cabem e vivem vários imaginários, vários gostos e onde convivem todos os seres. Lugar do belo, da conversa, do diálogo e da partilha. E lugar para e do recolhimento.
            A Cátia e o Arnaldo são os mais belos observadores de desejos e respigadores de memórias e histórias, além de guardarem as estórias para nós entrarmos nelas, depois, quando for o nosso tempo. Chegamos lá e temos à espera aquilo que queremos e aquilo que ainda não conhecemos mas que eles já sabem que vamos gostar.
            A Cátia e o Arnaldo passeiam-nos os sentidos e convidam-nos a criar novas memórias, qual sinestesia, qual contentamento.
            A Cátia e o Arnaldo podiam ser passeantes mas não encontro a beleza que gostaria de lhes atribuir nesta palavra, ainda que a beleza seja sempre a apoteose da subjectividade (variando mediante a interpretação de cada um e no que cada sentido em nós inspira e bebe por este e esse mundo fora…).
            A Cátia e o Arnaldo facilitam-nos o acaso e o abraço da mais bela palavra e acção da vida, a serendipidade.
            Por tudo isto e muito mais, a Cátia e o Arnaldo são amigos dos "livros, das pessoas e das palavras".
            Grata por existirem em nós.

Friday, July 29, 2016

As montanhas que habitam em nós.



 

Como tudo na vida, a serendipidade é uma coisa que construímos, ainda que a própria definição nos remeta para o "acaso" das coisas, de encontrarmos coisas boas, por "acaso". O acaso vive da forma como vivemos, da energia com que vivemos, do que cultivamos interior e externamente. O acaso somos nós que o fazemos, mesmo que inconscientemente, atrevo-me a dizer.
E por que motivo comecei esta "publicação" assim (?), se o vídeo que partilho (muito) abaixo é um documentário do Herzog (?) Ora, precisamente por resultar de um conjunto de coisas boas que...pareceram por "acaso". 
 
Recuemos.

Tenho uma relação complicada com as montanhas, desde criança. E acredito que estou a pacificar-me com elas há alguns anos, ainda que o apelo ande a conversar comigo há algum tempo. Nasci na zona da mais alta e bela montanha de Portugal, na da Serra da Estrela. Sou egitaniense por "acaso". Os meus pais não têm raízes lá mas conheceram-se naquela zona, por questões de trabalho e pelo "trabalho" ficaram por lá. Ainda lá estão. Já não trabalham.

Sou filha de uma transmontana e de um beirão. Podia ter nascido no Porto – cidade que sempre senti como “casa”? Costumo brincar que não tive tempo de vir nascer ao Porto (de onde a minha mãe acabou por sair), ainda que tenha dado umas valentes horas de trabalho de parto à minha querida mãe. 
Um belo amigo costuma dizer seriamente, “Ui, transmontanos têm aquele pulso forte, e que teimosos que são, e os beirões? Ui, são malucos.” [que ninguém se sinta ofendido com este comentário, nesta era de ofensas sérias e descontextualizações] 

Vivi no interior profundo, quando não era “cool” falar-se e recriar-se o tradicional e as tradições. Vivi em Figueira de Castelo Rodrigo, onde as memórias construídas lá falam de cegonhas brancas enormes e acarinhadas por todos, da estrada para Escalhão e do calor abrasivo à medida que subíamos em zigzag para Trás-Os-Montes, onde estão os meus avós, os únicos que sempre conheci e me conheceram. O isolado Freixo de Espada a Cinta, terra estranha que nunca conseguia perceber o que provocava em mim, o esverdeado do Douro que acompanha a turística Barca D’Alva, e todos os “esses” próprios da estrada, os enjoos da minha mãe nas viagens intermináveis, o escuro da noite e o recolher encolhido na parte de trás do carro. As laranjas à beira da estrada, o monte que se avista e sabemos que é Espanha, a emoção de ser outro país, ainda que do outro lado do rio, ainda que a crescer perto da fronteira. A secura e as temperaturas elevadas no Verão, o frio gélido e seco dos Invernos, ora chovesse copiosamente, ora gelasse repentinamente. Os Natais em casa dos vovós. A lareira, o jardim, o chorão que tanto chorar me fez quando teve de ser … adormecido. Os montes enormes e secos, lá ao longe, aqui ao perto, por todo o lado. As memórias da vegetação queimada no Verão. O cheiro. 
E a montanha, elemento sempre por ali por perto… E que a partir de determinada altura, me assustava e me afastava, de alguma forma.

Passei parte da infância e a adolescência em Pinhel, uma terrinha entre a Guarda e Vilar Formoso, já na fronteira com Fuentes de Oñoro, Espanha. Nasci em 1985. Os finais de 80 e os 90 passaram-se neste interior todo. E na altura, não gostava. Os meus pais não eram os maiores apologistas e adeptos do que nos rodeava, nunca apreciaram nem desfrutaram da natureza toda à volta. Sempre demonstraram vontade em sair dali, as expectativas foram alimentadas, sempre, nesse sentido. 2016: eles continuam a viver lá. Já disse, não já?
  A internet estava a “chegar” e a ser acessível, havia Telepac, por carregamentos, e o saldo sempre a desaparecer e a almofada que se punha em cima do modem para os pais não ouvirem o “pééééététététéééééé” da ligação para ir para o (m)IRC. Os nicks, os OP’s, “dd tc? K idd?”
Ainda tenho amigos que conheci através desses primeiros chats.

Todas as saídas dali eram bem-vindas. A internet, na altura (e acredito que ainda agora para toda a gente) era uma forma de aceder ao que não era possível, estar um bocadinho mais próxima do que, na altura, fazia sentido para mim. E de fugir do que não fazia sentido. E a montanha não fazia sentido. A montanha simbolizava todo o isolamento do qual queria fugir. 

E essa recusa acontece até 2003, altura em que a maioria saiu para ir estudar. Coimbra, Porto, Lisboa, Castelo Branco, por aí fora. Saímos. Uns continuaram a ir por aí fora, outros voltaram. Muitos voltaram. Muitos quiseram voltar. Muitos querem voltar, agora. Continuo sem querer voltar, já. Mas quero voltar à montanha. Fazer as pazes com ela, até porque está sempre lá, ela não se zanga nem amua. 

O processo de pacificação já vem acontecendo há anos. Mas nunca senti o apelo tão forte de tudo desde a viagem às Cinque Terre e algumas caminhadas por aqueles trilhos. Montanhas simpáticas e baixinhas. Mas acredito que todas as montanhas fazem-nos pensar na imensidão da vida e na sua impermanência. Nunca estive em montanha nenhuma além da Europa e nunca nenhuma acima dos 5 mil metros. Andei de teleférico tremelicante no Monte Titlis, nos Alpes suiços, e já me senti uma aventureira. Entrei em grutas de gelo, registei esses momentos com orgulho. Fiz um trilho de uns 400m de altura em Itália e se há algum lado de alpinista em mim que só quer chegar ao topo, veio ao de cima. Superei as exigências do calor daquele dia, agarrei-me às pedras e às pouquinhas cordas que apareciam durante o trilho e tentei não desfocar do calcar e enraizar bem. Um trilho minúsculo de Manarola até Riomaggiore. De fazer rir qualquer caminhante ou praticante de trekking (não sabia que a origem da palavra era sul africana). 

  As montanhas, mais do que falarem connosco, fazem-nos falar com o silêncio que esquecemos ter dentro de nós e impõem-se às várias vozes e inquietações que vivem por cá.
As montanhas têm a forma de mãos em prece, ouvi há pouco tempo (numa bela conversa com esta bela amiga, amante e conhecedora de montanhas há uma vida). As montanhas são oração para qualquer ateu. 
As montanhas, as montanhas. 
 Lugares de contemplação, encontro, reunião, isolamento, consciência.
E não acerca de caminhadas, mas acerca do fascínio das montanhas e da atracção que elas suscitam no Homem, que quer sempre mais e superar-se, um documentário recomendado, “The Dark Glow of The Mountains”, de Werner Herzog.




Alguém que me é muito querido e me conhece de forma transparente disse-me há dias, 

“A viagem não começa no destino”. 
 
Há quem prefira a viagem até lá, o processo, o todo, tudo, seja lá o que esse tudo for. Há quem prefira o destino, chegar lá. Há os caminhantes e os montanhistas, os atletas. Há várias motivações. E sobre os caminhantes, dizia David Thoreau (obrigada, amiga!),  no “Caminhada”: 

“Encontrei na vida somente uma ou duas pessoas que entendiam a arte de Caminhar, ou seja, a arte de dar caminhadas, e que tinham um talento especial para vaguear. Na nossa língua, o termo saunterer, sinónimo de “caminhante”, tem uma raiz admirável: remete para “as pessoas livres que vagueiam pelo país, na Idade Média, e que pediam esmolas para ir à la Sainte Terre”, à Terra Santa. Não tardou que as crianças exclamassem: “Lá vai um sainte-terrer!”, um vagabundo sem eira nem beira, rumo à Terra Santa. Aqueles que nas suas caminhadas nunca alcançam a Terra Santa, embora afirmem o contrário, não passam de meros vagabundos e de gente ociosa; mas os que lá vão são saunterers no bom sentido do termo, tal como o entendo. Alguns, contudo, atribuem a origem da palavra à expressão francesa sans terre, sem terra nem lar, que, portanto, em boa verdade, quer dizer gente sem casa a que chamar sua, mas que se sente em casa em todo o lado. Pois é este o segredo da errância bem sucedida. Um homem que não sai de casa todo o dia pode ser o mais errante de todos, e um sem-terra pode não ser mais errante do que o sinuoso rio que procura persistentemente o caminho mais curto para o mar. Mas eu prefiro a primeira suposição, que me parece a origem mais provável do termo. Pois todas as caminhadas se assemelham a cruzadas pregadas por um tal Pedro, o Eremita, que há em nós, para que partamos e resgatemos esta Terra Santa das mãos dos Infiéis. 
(…)
Até na caminhada mais curta devíamos partir talvez movidos pelo espírito da eterna aventura, sem retorno à vista, preparados para enviar para os nossos reinos desolados somente os nossos corações embalsamados, quais relíquias. (...) ”

E porque o desabafo já vai longo,

"422. As montanhas são a prova de que até a terra quer chegar ao céu." ("Para onde vão os guarda-chuvas", Afonso Cruz - fragmentos persas)
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