Friday, June 12, 2015

a compaixão treina-se?

Numa altura em q ando a reflectir (?) bastante sobre o nosso papel neste mundo e o q andamos por cá a fazer, se nos compete a nós ou não limpar determinadas coisas (crenças à parte), dou por mim a (re)ler/ver determinadas ideias, discursos e a repensá-los, encorporando novas interpretações/sensações. Não há memória q não seja emocional e, como tal, há coisas q nos vão ficando gravadas, outras q nem tanto, ainda q elas serpenteiem constantemente no nosso sub-consciente...
E, numa fase em que, por vezes, existe alguma dificuldade entre distinguir assertividade de um tom directivo e zangado, fruto quiçá, de algum cansaço q nos tolda a visão e o coração, dou por mim a pensar bastante na compaixão praticada por este Dalai Lama... Tudo aquilo que pensamos fica registado em nós, tal e qual o histórico do nosso browser e, como não conseguimos configurar o nosso sistema para fazer reset/limpeza, nem sempre nos conseguimos limpar...E vamos acumulando e acumulando. E para quê e porquê? E por q devemos nós praticar a compaixão?

A trocar umas "cartas" com uma amiga, ela falou-me da forma de amar, de como gostaria de amar mais...e dei por mim a pensar nesta questão. Praticar compaixão é uma forma de amar o outro (incondicionalmente, dir-se-ia). Mas o que é a compaixão? Certamente não é pena, nem apego, como muitas vezes é referido em determinados discursos, não é um acto de amor intencional e com intenções de nos sentirmos bem connosco, um gesto de altruismo pressupõe o falta de intencionalidade por quem o pratica, ou seja, "que bem q me vou sentir depois disto". Ou seja, é aquilo a que algumas referências védicas poderiam dizer de "acção desinteressada". Não que esteja desprovida de interesse genuino no bem estar alheio, mas lá está, é o desinteresse do ego, de quem a pratica. É a preocupação pelo bem-estar alheio porque todos temos direito à felicidade, independentemente do nosso papel e das nossas acções. Esta perspectiva poderá, certamente, levantar algumas questões. Será q conseguimos desejar "tudo de bom" e paz a TODA a gente? Poderá aprender-se a desenvolver essa prática? É inato? Dalai Lama, no vídeo abaixo, fala de dois níveis de compaixão, aquela que nos é inata, ou seja, como que um factor biológico, a compaixão sentida de mãe para filho (essa é tendenciosa, pelos laços intrínsecos que lhes estão associados) e a outra, a capacidade de gerar e nutrir esse sentimento por seres com quem não sentimos qualquer espécie de empatia ou com estranhos...
Esse "nível" de compaixão já não nos é natural, já precisa de prática e de treino. E é possível? Precisamente por isso é que a educação da compaixão é possível e necessária. Sim, se treinarmos para isso. Mas, seria isso sinónimo de auto-sacrifício (?), como o próprio Dalai Lama responde, "não". Não devemo anularmo-nos nem descuidarmos o nosso bem-estar em prol do do alheio, de todo. Só pela compreensão e aceitação de que todos merecemos ser felizes é que desenvolvemos o sentimento de compaixão, segundo o mesmo. Naturalmente, será desafiador (no mínimo!) nutrirmos compaixão por alguém que não teve um comportamento tão correcto connosco e como "comportamento gera comportamento", não será fácil educarmo-nos e contrariarmos e/ou despegarmo-nos de sentimentos menos bons acerca de algo ou alguém. Mas é possível, sempre. Depende de como olhamos para a vida, de como querermos olhar para nós, para os outros e do que queremos fazer connosco e com os outros. Sairmos do centro do umbigo e ficarmos mais despertos e abertos para o mundo. Sermos mais felizes e percebermos que, apesar das escolhas e atitudes que os outros possam ter (boas, más, legítimas, ilegítimas ou não aos nossos olhos), todos temos o direito de ser felizes.

Se você quer que os outros sejam felizes, pratique compaixão. Se você quer ser feliz, pratique compaixão”.
(Tenzin Gyatso, o XIV Dalai Lama)



"TRUE COMPASSION IS NOT PITY OR ATTACHMENT IS THE UNDERSTANDING OF THE REAL EQUALITY OF ALL"

"A compaixão tem pouco valor se permanece uma ideia; ela deve tornar-se nossa atitude em relação aos outros, reflectida em todos os nossos pensamentos e acções."

"Melhorar o mundo é melhorar os seres humanos. A compaixão é a compreensão da igualdade de todos os seres, é o que nos dá força interior. Se só pensarmos em nós mesmos, nossa mente fica restrita. Podemo-nos tornar mais felizes e, da mesma forma, comunidades, países, um mundo melhor. A medicina já constatou que quem é mais feliz tem menos problemas de saúde. Quando cultivamos a compaixão, temos mais saúde."

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