Thursday, August 25, 2016

"Vê moínhos? São moinhos. Vê gigantes? São gigantes."

A trovoada acontece.
Ocorre.
Vai passando, vai ocorrendo. Passa. Tudo passa.

Até o Agosto mais quente pode ter as nuvens mais cinzentas prontas a libertar. E como sabe bem libertar.
E a trovoada deste Agosto traz-nos, por vezes, trovoada dentro de nós. Mas... Tudo passa... Da mesma forma que as formas que os nossos olhos vêem num dia são diferentes noutro dia. Ou diferentes das dos outros. Para uns são moínhos, para outros são gigantes.

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IMPRESSÃO DIGITAL

Os meus olhos são uns olhos,
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem lutos e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.

António Gedeão
            In Movimento Perpétuo (1956)

Friday, August 12, 2016

as palavras pequenas servem para conversar.


"Os grandes conhecimentos crescem demasiado, caindo rapidamente por terra; os pequenos conhecimentos crescem lentamente, mas não caem. As palavras grandes acabam em chamas e incendeiam tudo à volta; as palavras pequenas servem para conversar."

[in "a borboleta voando o vazio", Chuang Tzu e Lié Tzu]





Tuesday, August 9, 2016

o meu Tio.

o meu Tio.

O meu Tio era um Homem com “H” maiusculado.
Um homem de raça, beirão que era, latinista e do mundo.
O meu tio era o Meu tio. O meu tio será sempre o Meu Tio.
Também era meu Padrinho.
O meu tio gostava de barcos, de pessoas, de justiça e de poesia.
Falava a mais alta linguagem de todas: a da Humanidade e da Compaixão.
Era um homem de letra Grande, das Letras e do Direito.
Usava canetas que ainda hoje utilizo e baixava os olhos nas suas leitura, dando um jeito ligeiro aos lábios quando se entusiasmava.
Falava com voz firme e assertiva, de coração doce e olhos penetrantes.
Brilhavam de entusiasmo, de amor, de justiça.
O meu tio era um homem bom. Vivia desprendido apesar da matéria toda à volta.
O meu tio chamava-se João e no meu coração
vive todos os dias.

O meu tio João.

(Mora / 28 Julho 2016)

Gosto de abraçar árvores, falar com elas e com as nuvens. 
E gosto de me sentir mais próxima com quem partiu daqui, com quem já está noutro plano. 
As árvores e as nuvens são extensões da mãe Terra e do pai Céu. 
E cada abraço é uma brisa sussurrante no coração.


E que bom que é abraçar árvores!

Monday, August 8, 2016

Turrell é "luz e contemplação"

mais uma partilha de um amigo. e que bom que é poder partilhar coisas boas.
disse me q admira imenso o trabalho artístico de James Turrell, principalmente no q diz respeito à "luz e contemplação"

"James Turrell's explorations in light and space impact the eye, body, and mind with the force of a spiritual awakening. Informed by his studies in perceptual psychology and optical illusions, Turrell's work allows us to see ourselves "seeing."


Monday, August 1, 2016

Flâneur, a respigar o Belo.




           E que bom que é chegar à mais bela livraria da cidade do Porto, a Flâneur, e ter lá estas (entre muitas outras!) belezas à espera. A Cátia e o Arnaldo conhecem-nos, conhecem o nosso imaginário e pensam, carinhosamente, em cada uma das expectativas, vontades e necessidades.
            A Cátia e o Arnaldo são a prova de que as livrarias continuam a existir enquanto lugares de sonho, contemplação e vivência. São o tempo e o espaço do leitor, mais do que isso, são as pessoas amigas que, genuína e verdadeiramente, cuidam do mundo interior de todos, onde cabem e vivem vários imaginários, vários gostos e onde convivem todos os seres. Lugar do belo, da conversa, do diálogo e da partilha. E lugar para e do recolhimento.
            A Cátia e o Arnaldo são os mais belos observadores de desejos e respigadores de memórias e histórias, além de guardarem as estórias para nós entrarmos nelas, depois, quando for o nosso tempo. Chegamos lá e temos à espera aquilo que queremos e aquilo que ainda não conhecemos mas que eles já sabem que vamos gostar.
            A Cátia e o Arnaldo passeiam-nos os sentidos e convidam-nos a criar novas memórias, qual sinestesia, qual contentamento.
            A Cátia e o Arnaldo podiam ser passeantes mas não encontro a beleza que gostaria de lhes atribuir nesta palavra, ainda que a beleza seja sempre a apoteose da subjectividade (variando mediante a interpretação de cada um e no que cada sentido em nós inspira e bebe por este e esse mundo fora…).
            A Cátia e o Arnaldo facilitam-nos o acaso e o abraço da mais bela palavra e acção da vida, a serendipidade.
            Por tudo isto e muito mais, a Cátia e o Arnaldo são amigos dos "livros, das pessoas e das palavras".
            Grata por existirem em nós.
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