Wednesday, September 30, 2015

yoga para aqui, yoga para acolá ou "noc noc, daqui a consciência".


A minha querida amiga e professora de yoga, Catarina Mota, lançou-me o desafio de escrever o significado de Yoga.
Cá partilho o resultado, em tom de desabafo. O registo é oral q.b. e podem encontrá-lo publicado
no blog dela.
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O que é o YOGA?

Expressar por escrito o significado de YOGA no meu percurso é por si só um desafio.


Tal como o Yoga o é para mim. Um desafio, perante mim própria, o meu ego e perante o mundo e os outros.            
No início foi a respiração. Tentar iniciar um ciclo respiratório pelo abdómen não era propriamente novidade, dada a minha formação profissional e necessidade de o fazer para colocar a voz e fazer locução. O desafio era mesmo conseguir aliar tudo isso aos movimentos de forma “correcta”. Lembro-me de até tonturas ter nos primeiros adho-mukha que fiz…e coordenar tudo? Bolas, que trabalheira, que confusão…Então o yoga não era concentrar para abstrair? E conseguir fazê-lo? Nos primeiros tempos era tão difícil conseguir dedicar a atenção a tudo, da mesma forma que era difícil não pensar no que ia fazer para o jantar a seguir, no dia que tinha tido e nos pormenores das coisas que tinham acontecido e, enfim, vinham os pensamentos mais idiotas à mente. Vá, confessem, quem é que nunca pensou no jantar, na conversa com o amigo, na coisa pendente que tinha de fazer, na lista de compras esquecida na mesa da cozinha, enfim, uma série de coisas “importantíssimas”, na altura, logo naquele momento em que estamos em cima do tapete e em que “bastava” a concentração na respiração, alinhamento/postura e no mergulho por dentro que é uma prática de asana


Se aquelas primeiras aulas de yoga tivessem um cartoon, seria uma implosão de pensamentos e de coisas a que queria estar atenta. A melhor metáfora que me ocorre das primeiras aulas de yoga é como quando estamos a aprender a conduzir. Até que determinadas coisas entrem em modo “piloto automático”, ui, que confusão que era! O alinhamento, a respiração, a coordenação da respiração com movimentos… e atrever-me e desafiar-me a fazer a aula toda sem me frustrar, ui! As primeiras aulas de yoga foram isso mesmo: aprender a lidar e gerir a frustração perante mim própria, nesse mergulho para dentro que representava aquela hora de prática.

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Sentar-me com as costinhas “direitas” e respirar. Parece fácil, não? Humhum, pois. Até podia ser se todas as rotinas que estão embrenhadas em nós não nos conduzissem na direcção contrária. Passamos grande parte do dia, ou ao PC, tortos, ou de pé e com a bacia desencaixada, ou enquanto andamos, sempre com a cervical inclinada para o telemóvel, ao qual não damos descanso. Chegar a uma aula de yoga depois de um dia de 8/9h de trabalho e com as preocupações diárias que a rotina assim “exige”, nem sempre é “fácil”. Quando a aula termina, é uma delícia e invade-nos aquele pensamento sempre “ainda bem que vim!”, mas sair do trabalho, atravessar a confusão do trânsito de final do dia (pensar no trânsito ainda pós-laboral que se irá apanhar depois da aula!), chegar lá e começá-la, nem sempre é a coisa mais sedutora do mundo… por mais que amemos e nos dediquemos à nossa prática, por mais que nos esforcemos e mesmo em alturas em que temos perfeita noção que se não formos àquela aula, dificilmente iremos compensar a prática em casa. Ufa, que correria. (Fiquei cansada só de escrever estas últimas linhas, eheh...) Ora bem, para nós que andamos aqui no lufa-lufa da cidade e ainda conseguimos ir a uma aulinha às 19h00, só sentar no tapete uns minutos para aquietar é um desafio gigante. A cabeça não pára, é assim que a habituámos há muito tempo. Não há botões mágicos, nada. Só mesmo a nossa concentração, essa sim, consegue coisas e efeitos mágicos. É como tudo na vida, uns dias melhor, outros pior. Portanto, atrevo-me a dizer que por mais anos que passem e se ganhe espaço, se melhorem posturas, flexibilidade, etc, aquilo que a minha caminhada me tem mostrado é que é TUDO impermanente, tal como a forma como olhamos para o mundo, para o yoga e como praticamos, claro.

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No meu trilho pessoal, já tive alturas em que praticava asana duas vezes por dia e agora que olho para esses tempos, reconheço que fazia tudo menos yoga. Fazia posturas e mexia o corpo, é certo, mas a minha cabeça não estava alinhada com o coração, mas sim com o ego. Estava numa boa condição física (como nunca pensei que o yoga permitisse!), tinha bastante tempo livre e a prática de asana matinal e ao fim do dia tornou-se, praticamente, uma obrigação. Mas…ficava com um sentimento de culpa estranho, caso não praticasse. Ora bem, isso não será violentar-me? Não se confunda disciplina com inflexibilidade e intolerância. Lá está, o limbo entre o equilíbrio e desequilíbrio é aquele ponto que não se vê, quase, mas que existe. Um bocadinho mais para o lado e caímos, daí a dificuldade em mantermo-nos no meio. Se fosse fácil, não precisávamos de passar a vida toda a aprendê-lo. Ainda que, também, por vezes, seja necessário ir aos extremos para se descobrir o que não se quer e ir algures ali até ao meio. 


Yoga para mim é consciência, é ter a humildade de olharmos para dentro, mas aquele dentro em que cumprimentamos o “ego” -reconhecemo-lo mas não o alimentamos nem focamos a atenção unicamente nele – e tomamos consciência de nós e dos outros. De nós com os outros e com o mundo em geral. Yoga é vestirmos o papel de observador a toda a hora, mas sem que isso represente uma obrigação, é algo que se vai tornando quase que inconsciente, por mais paradoxo que possa soar. É uma consciência constante e permamente nesta impermanência da vida, nestas rotinas em piloto-automático, em que agimos de forma quase que desligada de tudo e de todos.


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Yoga é respirar consciência, observação, humildade e a tão bela “compaixão”. E parece um paradoxo, da mesma forma que é necessário concentrarmo-nos para nos abstrairmos ou estarmos atentos a nós de tal forma para nos conseguirmos observar e tentar compreender e ter compaixão perante o próximo. Afinal, só um “desapego” e uma “acção verdadeiramente desinteressada” nos vai conduzindo a qualquer lugar melhor que este. 
A música que agora ouço enquanto escrevo é de Fink e chama-se “Truth beginse o refrão refere algo como “Layers on layers, layers on layers. The journey unravels, and the truth begins, begins, begins”. E o yoga anda de mãos dadas com a vida como se de camadas se tratasse. Se cada passo que damos é mais uma camada que acumulamos a outra e a tantas outras camadas e camadas de caminhadas e aprendizagens, em algum momento percebemos que não percebemos nada mas que a quietude é o melhor amigo das dúvidas, do receio, do apego… O olho do furacão é sempre o local onde as condições atmosféricas são mais amenas… Eis que a “verdade” aparece. A nossa verdade, o que faz sentido para nós, a forma honesta e tranquila de estar na vida, perante os desafios e as dificuldades e o sofrimento. Se nos desapegarmos dos apelos constantes a que o nosso ego reage pelos estímulos todos lá de fora, do dia-a-dia, seremos, sem dúvida, mais verdadeiros connosco próprios. 


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Yoga não são só asanas (ainda que durante muito tempo tenha pensado que sim), não é sentar de pernas cruzadas, respirar e fazer “jñána mudrá”, emitir o som “Om” e desejar paz para nós, os outros e o universo. Não é perpetuar clichés nem continuar a dizer aquilo que o Yoga não é (ou não deveria, pelo menos, ser!). Podia também lançar a provocação que é só arranjar tempo para respirar e expandir, mexer o corpo, já que é o nosso veículo para essa mesma expansão e viagem e, pronto, só falta alinhá-lo com a mente. Afinal, trata-se “apenas” de unir o coração e a mente. O que fazemos para o conseguir é a caminhada da vida… E talvez partamos sem o conseguir fazer mas, pelo menos, existe a intenção (e acção!) de viver conscientemente. A descoberta do que andamos para aqui a fazer, do que é poder viver conscientes, fieis e verdadeiros connosco e com os outros. Amar de forma livre e incondicional, passar a ver a vida e a vermo-nos de outra forma. Não necessariamente de forma oposta à que vivíamos antes mas, por norma, os vários relatos e histórias que ouvimos, referem-se sempre a um “antes” e “depois” do yoga na vida das pessoas.


Há mesmo quem mude radical e repentinamente e passe a rejeitar todas as rotinas e processos desenvolvidos até à introdução ao yoga. Há variadíssimos desabafos e textos sobre as mudanças e alterações na vida de cada um, é comum referir-se a forma como se olha para a vida e isso pode implicar a alimentação, as rotinas diárias, até mesmo os amigos e companhias que sempre fizeram sentido para nós, tal como determinados padrões comportamentais. E, de repente, mergulhamos numa bolha cujo timing depende de cada um… e as mudanças se podem ser subtis e vão acontecendo tão internamente que, quando se sentem, são enormes.

Há quem não consiga abdicar de todos os hábitos de outrora, há quem os mude totalmente. Há quem se afaste do círculo de amigos habitual e passe a não conseguir gerir antigas relações, há quem deixe de fazer determinados programas, há quem aprenda a gostar de estar sozinho e há quem passe a apreciar e a aperceber-se do quão necessário é ouvir o silêncio.


Pode haver, também, uma fase em que durante a descoberta desta forma de ver o mundo - como se tudo fosse mais transparente aos nossos olhos e estivéssemos mais conscientes e sensíveis ao mundo em geral e, quase que paradoxal e simultaneamente, mais abstraídos dos impulsos desse mesmo mundo – nos julgamos mais atentos que os outros. Ora bem, lá está o ego a pregar-nos uma partida. “Ego” talvez tenha sido a palavra que mais ouvi da boca do meu primeiro e querido professor de yoga… “ego” para aqui, “ego” para acolá… e como o significado atribuído às palavras varia em função, quer das áreas de estudo, quer do contexto, eu lá me questionava sobre algumas coisas que a Psicologia me dizia… Não há problema em ter ego, aliás, temos de o ter, desde que não o deixemos conduzir-nos por esse mundo fora. Senão, a visão que temos sobre o mundo será sempre de dualidade, de separação: de nós e dos outros. E o que o Yoga me tem ensinado, enquanto forma de viver, é exactamente o oposto. É união. Sem querer cair em redundâncias, talvez tentar explicar o que é Yoga parta mim seja mais fácil do que julguei…(como se a simplicidade não trouxesse consigo toda a complexidade do processo até lá…). Se escrevo estas coisas (num registo bem oral, diga-se de passagem), talvez seja porque me revejo plenamente nestes processos todos. 


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Enquando continuo a escrever, continuo a ouvir Fink, desta vez, uma música em que ele colabora com Bonobo (“If You Stayed Over”) e que tem uma passagem: “Breathe in the future, breathe out the past”, curioso como esta metáfora poderia ser utilizada, se o passado representasse as preocupações e lições aprendidas e o futuro, apenas as coisas boas, as expectativas, a esperança. Mas daqui podemos sempre saltitar para outra questão: e por que não inspirar e expirar o presente, apenas? Claro que a construção do que somos é a soma de tudo o já fomos, mas não dispendemos demasiada energia a pensar no passado e a projectar o futuro? Andamos sempre aos trambolhões de expectativas e furacões de emoções… Se yoga é, também, a consciência de tudo “aqui e agora”, se não há mais nada além disso, se tudo é impermanente, então que estejamos a 200% no agora porque é a única certeza que temos, é de estarmos aqui. 


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Consciência, liberdade, verdade, "permanência"na impermanência, evolução, caminhada, luz …são palavras que associo ao Yoga. Felicidade e consciência. E a (tão tramada por tão difícil que é, por vezes!) compaixão que vem com a aceitação.

Yoga é respirar contemplação, abraçar o sol da consciência e viver de forma mais livre, tolerante, flexível e feliz. Primeiro connosco próprios, numa lógica do desapego e sem dar grandes ouvidos aos pedidos do ego e, depois, com os outros e o universo em geral. E tudo vem por acréscimo…pensar em várias opções e tentar ver o mundo de outra perspectiva. Não é só quando estamos no tapete, numa invertida, que vemos o mundo ao contrário. É preciso fazê-lo sempre que os desafios destes novos ritmos nos preguem sustos. 

Yoga é arranjar espaço dentro (e de dentro para fora) de nós. Expandir a caixa toráxica, a capacidade respiratória, a flexibilidade, a força, etc, claro…

E expandir, acima de tudo, a consciência… e o coração.

Monday, September 28, 2015

You don't want to hurt yourself.

Há alturas assim, em que só nos apetece aquecer o coração com sonoridades que nos confortaram noutros tempos. 
Esta é do novo álbum do rapaz, que, aliás, já nos tinha mostrado que podia ser um... "Hard Believer".  ;)

"This is a song about somebody else
So don’t worry yourself, worry yourself"



Monday, September 21, 2015

Thursday, September 17, 2015

transformações.


Entre chuviscos, apertos ariscos e partidas serenas, também o cinza se transforma.

As últimas semanas têm sido uma aprendizagem a velocidade que nem sabia que podia existir. Foi pouquíssimo tempo para processar tantas mudanças. Afinal, o tempo é mesmo uma abstracção. 

Em forma de homenagem a quem parte deste mundo físico, deixo esta imagem, abaixo.
A Chila partiu serena e feliz, rodeada por quem a amou, incondicionalmente, tal como o Amor dela por nós.

Afinal, arrisco-me a dizer que só o amor livre pode ser incondicional. E os animais, com a sua sabedoria, ensinam-nos o mais subtil do tudo. Ensinam-nos a amar, a observar o lado mais frágil de nós próprios e descobrimos que, afinal, até temos uma perninha de guerreiros.
Eles são guerreiros determinados. Escolhem-nos e escolhem quando partir. A magia de crescermos com eles é, precisamente cada passo, cada gesto, por mais mínimo q seja. Ser mãe deve ser algo do género. Nunca fui mãe mas o elo que desenvolvi com a minha princesa felina foi algo de mágico, tal como a sua partida. A morte pode, de facto, ser um processo "mágico", de aceitação e transformação. A morte traz quietude. Uma quietude que só existe na serenidade de quem aceita. O aperto angustiante transforma-se no aperto da saudade. O amor e a morte precisam de caminhar de mãos dadas com a liberdade, para pacificarem o desassossego e inquietações deste mundo físico. Afinal, só aquilo e aqueles livres conseguem amar, aqui ou noutro lado qualquer.
Aceitemos o processo e o tempo que o próprio tempo precisa. Afinal, o tempo é uma abstracção. O Amor também o é....mas acreditamos que é real, seja lá o que isso for.
Aceitemos, confiemos e transformemos.

Um aluno de uma tia muito querida, uma vez disse-lhe: "A terra  é bela. Meninas saltam esmagando a terra. E o sol abre um sorriso azul na boca das nuvens."
Chamava-se Zé Carlos, "tinha 12 anos e era pastor de ovelhas, como o pai. Não falava e, pelos vistos, não comunicava com, praticamente, ninguém." 


Pois é, Zé Carlos... A vida é mesmo bela e o sol abraça-nos com o seu sorriso.
Cabe-nos a nós observar e transformar o arco-íris dentro (e fora) de nós.



  
Lovely Chila (2004 /// 14-09-2015)

Thursday, September 10, 2015

o segredo das relações. (?)

"What's the secret of a relationship?
Don't get into one!"

And if you're already into one, get out of it!"

Reflexão muito interessante e com um toque de um delicioso humor sobre os relacionamentos, por Rajshree Patel. Afinal de contas, o que andamos aqui a fazer "nisto" das (nossas) relações? Queremos estar com alguém de forma harmoniosa, apaixonada e pacífica? Ou queremos estar com alguém e ter (sempre) razão? Por norma, o nosso ego quer ter razão e isso dificulta qualquer relação e traz o distanciamento que tanto queremos evitar...Será que faz sentido? Será que devemos dispender a nossa energia nisso e na negatividade de uma discussão conjugal superficial matinal (que, claro, para nós é a coisa mais importante daquele momento)? Se calhar, o "segredo" para nos relacionarmos passa pela aceitação, observar aquele "ponto" em que percebemos que não precisamos de ter razão nem que os outros adoptem a mesma opinião/posição que tomamos relativamente a determinado assunto. Seja a forma como pegamos na pasta de dentes (exemplo brilhante dado por Rajshree Patel), seja outra coisa qualquer. Para isso, precisamos de praticar o lado observador que todos temos... Algo que não é fácil quando se está no olho do furacão (curiosidade: expressão comum e erroneamente utilizada, tendo em conta que, segundo a ciência, o olho de uma tempestade é, precisamente, o local onde as condições climáticas são mais amenas!)...
Bem, afinal de contas, podemos todos dizer que queremos amor mas, acima disso, só queremos ter razão. E não falo do alto da minha moral e condescendência, falo contra mim própria. Passamos grande parte da nossa vida a dizer "eu sei, eu sei", "eu compreendo o teu lado mas...". Enfim, teorizamos na perfeição e agimos com o ego no umbigo (e no coração!) Se calhar deviamos abandonar mais o uso do pronome pessoal "Eu", tantas vezes utilizado nos nossos discursos. Reflictam: quantas vezes começamos uma frase por "Eu", durante o dia? E quantas vezes o fazemos quando nos dirigimos aos nossos/as respectivos/as companheiros/as? Afinal de contas, é sobre "mim" ou sobre "nós"? E não confundamos liberdade/vontade individuais (que devemos manter e nunca nos anular em prol do outro, claro) com o bem-estar e harmonia geral do casal, essa construção feita pelo par. A vontade de dois e a adaptação e gestão de cada um. 

O mundo não é nem tem de ser feito à nossa medida. Os outros não têm de usar a mesma lente que nós... Quando acusamos o outro de intolerância, teimosia e pouca abertura, etc, não estaremos a cair, precisamente, no mesmo erro e a perpetuar a mesma atitude que criticamos? Não queremos, no fundo, moldar a visão dos outros à nossa? Porquê validar a nossa de melhor do que a dos outros? Só porque é nossa, provavelmente.
"Não é fácil abandonar as nossas posições", diz-nos Rajshree. E, de facto, não é. "E é aqui que entra a nossa prática, seja a meditação, respiração, o yoga". Elevar o nosso "prana" (energia vital), além de nos expandir o sistema respiratório, a energia em geral e a nossa mente, expande-nos a nossa visão e forma de estar no mundo. Expande-nos. "Tornamo-nos mais e mais expandidos. Pequenas coisas não nos abalam." A nossa tolerância e o entendimento que temos do mundo, dos outros e de nós próprios expande, tal como a nossa caixa respiratória numa saborosa e nutritiva inspiração. Como diz a minha amiga e professora Catarina, "elasticidade não está só no corpo, mas sim na mente, acima de tudo". E segundo Guruji, mencionado pela Rajhshree, "pequenas discussões são apenas UM grão de areia nos nossos olhos", que continuam a entrar sistematicamente no nosso sistema.
O que é mais importante? O que é que queremos, verdadeiramente?
Ter razão ou ter Amor?

"Keep your peace, keep your harmony."



"The universe set it up so that with your friends, family, parents and life partner, the thing you need to learn about you, will be in front of you.

The only reason for people to come together is because they want to give love, and in the process of giving something beautiful happens.

At the end you want love, harmony and peace. And the only solution is to give, and when you feel you cannot give, that is when you have to give more.

Why does love feel us so vulnerable?
Vulnerability is your greatest strength. When you are born, you are born open, available, giving.

You are just love."

Rajshree Patel - 04/03/2015

Artigo "Success in relationships", no Huffington Post.

(Recordei este vídeo, já partilhado pela minha querida amiga e professora de Yoga, Catarina Mota, no blog dela.)

Wednesday, September 9, 2015

a vida acontece: acerca dos processos de perda.

 Acerca da perda. Acerca da morte.
Procurar o equilíbrio, a paz interna, continuando a viver, enchendo-nos de amor, poderá ser a maior homenagem a quem parte?

Abaixo, a sábia Rajshree Patel.



E uns minutos de reflexão por Sadhguru(Jaggi Vasudev), - goste-se dele ou não - que reforça que o processo de perda, mais do que a morte a acontecer, é o vazio que surge na vida, ficando esta "incompleta". A dor, o luto é uma "força incapacitante", não é?



Thursday, September 3, 2015

mostrar ou não mostrar?

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Um editorial do Público (justificando o porquê da publicação das imagens da notícia de um barco naufragado num lago da Turquia, onde vemos uma criança que foi dar à costa do lago) espoletou este comentário em onda de reflexão/interrogação. É um assunto discutível e discutido em todas as cadeiras, desde as dos anfiteatros universitários, às dos debates televisivos, ao banco do autocarro e/ou do café. A interrogação não é nova, as respostas também não...Mas, da mesma forma que, por vezes, preferimos não opinar, não pensar, tentar adormecer qualquer estímulo que nos toque à porta, assim como é preferível não racionalizar ou reflectir muito acerca de determinadas áreas da nossa vida, ainda acredito que estamos aqui para o fazer. Afinal, acredito que viver de forma mais consciente é um dos nossos propósitos...e só assim poderemos viver e ser livres (quer das construções q nós próprios elaboramos acerca de nós, quer das elaboradas acerca do mundo onde estamos). Acredito, profundamente, que a liberdade individual "só" pode (co-) existir aquando de mãos dadas com a consciência.

A linha ambígua entre mostrar a realidade ou cair no sensacionalismo...
Afinal de contas, é tudo justificável?
Não se publicam determinadas imagens, precisamente, pela exploração do horror e pela obrigatoriedade ética (e quase q moral) de manter a dignidade o respeito pelos protagonistas de determinadas "histórias"...?
Até que ponto isto é justificável? Até que ponto não se deve mostrar "ao mundo" entorpecido, o horror a acontecer na porta do lado? Será que ficamos tão insensíveis à tragédia humana pela invasão diária e instantânea de acontecimentos que ultrapassam, paradoxalmente, a capacidade humana de os digerir? Somos metralhados, constantemente, com tanta informação (tanto ruído para os nossos sentidos) que nem conseguimos assimilar que quando nos deparamos com uma imagem destas, das duas, uma: ou criticamos os media que os publicaram, apontando os argumentos anteriormente apresentados e, lastimando a opção dos mesmos; ou, pura e simplesmente rejeitamos quase que inconscientemente a repulsa indigestível de algo que nem conseguimos apreender, dada a overdose de notícias hediondas a roçarem nos olhos, na boca e no coração, a toda a hora. Ficamos como que entorpecidos, adormecidos entre tanto sofrimento alheio, ao ponto de criarmos algo que nem processamos. É uma defesa natural, protegermo-nos do medo e do sofrimento. É como quando ouvimos um grito com determinada frequência (entre 30 a 50 Hertz, segundo um artigo da Revista do Expresso, de 29/08/2015), e as nossas amígdalas são imediatamente estimuladas e lá são remexidas as profundíssimas áreas do "medo" e "ansiedade", colocando-nos em situação de alerta e "acelerando as reacções" perante o perigo. Será que bloqueamos essa área do nosso cérebro pelo entupimento constante de más notícias? Como reagir?

É legítimo não querermos reagir? É legítimo não querermos saber? É legítimo que "queiram" que queiramos saber? (Afinal, "o espelho da realidade", a responsabilidade individual e colectiva, o interesse público, cidadania activa da sociedade comum...) Podemos sempre fechar o jornal, fechar a página online, mas já não podemos ignorar aquilo que vimos e o nosso cérebro registou, ainda que queiramos esquecer. Já lá está. Não podemos fazer reset ao sistema em segundos. E está lá porque foi publicado pelo medium. Se a opção não tivesse sido essa, não teríamos sequer a milésima de segundo da oportunidade de registar aquela imagem. O que fazemos com ela e com a forma como digerimos o horror real já é responsabilidade nossa. Não diabolizemos nem entreguemos a responsabilidade total aos media. A sociedade civil também dita o alinhamento dos media, contrariamente ao que possamos pensar (e acusar!). A agenda não é criada a partir do nada. As coisas, por mais que queiramos acreditar que não, também são bilaterais. Quando optamos por nada fazer, já é por si só uma opção. Seja escolher não sentir, apagar, entorpecer, esquecer. Ou lembrar. Lembrar o clichê que a "realidade ultrapassa a ficção”.
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