Thursday, December 3, 2015

tirita, amor.

trémula
respiração,
suspensão,
trepidação,
tiritação.

bruxuleante coração.


Monday, November 23, 2015

sopa de Amor.

Receita do Amor e Compaixão:

Para dias apertados, sem tempo para dizer que há tempo.
Quando estiver a sentir-se em baixo e achar que não há uma pinga de compaixão no mundo, respire fundo e pense que pode encontrar manifestações de amor em todo o lado, em qualquer cantinho, inclusive num prato de sopa.


Thursday, November 19, 2015

crumble de legumes, yummy!

Yummy yummy, as coisas maravilhosas e deliciosas são as mais simples desta vida... :)

Muito simples: basta colocar legumes a gosto no wok ou fazer um refogado num tachinho... os condimentos ficam à "escolha do freguês". Depois, é só colocar num pirex, cobrir com granola e queijo e levar ao forno a gratinar. E que maravilha que fica...!
A inspiração deste prato vem de um espaço com delícias, sorrrisos e muita ternura na confecção de tudo, desde cake design a refeições do dia-a-dia... :) Chama-se PIQUENIQUE e fica nas recuperadas Galerias Lumiére, com entrada, quer na rua José Falcão, quer na rua das Oliveiras.


Wednesday, November 18, 2015

join the force.

Uma Força Para o Bem, um movimento referido no livro do Goleman, com o Dalai Lama.


Sunday, November 8, 2015

muy turistica e gourmet.

...e não é que a Invicta está cheia de ..."coolness".


Wednesday, October 28, 2015

Asterisco abraça Dalai Lama.

O Asterisco lá saberá... :)


(O livro é do Daniel Goleman, "Uma força para o Bem" - a visão do Dalai Lama para o nosso mundo. Literatura deliciosa)

Wednesday, October 21, 2015

is life suffering?

Um bom textinho acerca disto que é o "sofrimento", aquilo que a nossa mente cria em torno do que achamos que nos faz sofrer... E de como lidar com aquelas alturas da nossa vida...até pq elas vão existir sempre, assim como os obstáculos, por isso, a única forma que temos de lidar com as pedrinhas no caminho é mesmo a mudar a nossa óptica e praticar o tal observador dentro de nós...até porque..."There are very happy sick people. "

"The first of the four noble truths of Buddhism is that life is suffering. This doesn’t mean that life is only suffering - there are, of course, many beautiful aspects to life - it just means that no one can live their life without facing some amount of suffering. In light of this fact, it would be helpful to take a closer look at it."


http://www.ekhartyoga.com/blog/self-help-advice-for-difficult-times

Monday, October 19, 2015

oh silly me, that's just me.

vício bom.

"I woke up this morning
Didn’t recognize the man in the mirror 
Then I laughed and I said 
‘Oh silly me, that’s just me’"


Wednesday, September 30, 2015

yoga para aqui, yoga para acolá ou "noc noc, daqui a consciência".


A minha querida amiga e professora de yoga, Catarina Mota, lançou-me o desafio de escrever o significado de Yoga.
Cá partilho o resultado, em tom de desabafo. O registo é oral q.b. e podem encontrá-lo publicado
no blog dela.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTXC0_SerA0Qtw-uvdHD0H443dDb871NeHxjmH1QHD4wNsm2HmovtRAILrK4-fhMp5Ml38ujdT2ocjAxObF7DLA0KsPuPzOfyhCBI2MtZ2o-el6tmconRVYC719NMAOuVFIpWCkwuEeds/s1600/yoga+cartoon.jpg
O que é o YOGA?

Expressar por escrito o significado de YOGA no meu percurso é por si só um desafio.


Tal como o Yoga o é para mim. Um desafio, perante mim própria, o meu ego e perante o mundo e os outros.            
No início foi a respiração. Tentar iniciar um ciclo respiratório pelo abdómen não era propriamente novidade, dada a minha formação profissional e necessidade de o fazer para colocar a voz e fazer locução. O desafio era mesmo conseguir aliar tudo isso aos movimentos de forma “correcta”. Lembro-me de até tonturas ter nos primeiros adho-mukha que fiz…e coordenar tudo? Bolas, que trabalheira, que confusão…Então o yoga não era concentrar para abstrair? E conseguir fazê-lo? Nos primeiros tempos era tão difícil conseguir dedicar a atenção a tudo, da mesma forma que era difícil não pensar no que ia fazer para o jantar a seguir, no dia que tinha tido e nos pormenores das coisas que tinham acontecido e, enfim, vinham os pensamentos mais idiotas à mente. Vá, confessem, quem é que nunca pensou no jantar, na conversa com o amigo, na coisa pendente que tinha de fazer, na lista de compras esquecida na mesa da cozinha, enfim, uma série de coisas “importantíssimas”, na altura, logo naquele momento em que estamos em cima do tapete e em que “bastava” a concentração na respiração, alinhamento/postura e no mergulho por dentro que é uma prática de asana


Se aquelas primeiras aulas de yoga tivessem um cartoon, seria uma implosão de pensamentos e de coisas a que queria estar atenta. A melhor metáfora que me ocorre das primeiras aulas de yoga é como quando estamos a aprender a conduzir. Até que determinadas coisas entrem em modo “piloto automático”, ui, que confusão que era! O alinhamento, a respiração, a coordenação da respiração com movimentos… e atrever-me e desafiar-me a fazer a aula toda sem me frustrar, ui! As primeiras aulas de yoga foram isso mesmo: aprender a lidar e gerir a frustração perante mim própria, nesse mergulho para dentro que representava aquela hora de prática.

http://spanda.us/page3/files/page3-1003-full.jpg
Sentar-me com as costinhas “direitas” e respirar. Parece fácil, não? Humhum, pois. Até podia ser se todas as rotinas que estão embrenhadas em nós não nos conduzissem na direcção contrária. Passamos grande parte do dia, ou ao PC, tortos, ou de pé e com a bacia desencaixada, ou enquanto andamos, sempre com a cervical inclinada para o telemóvel, ao qual não damos descanso. Chegar a uma aula de yoga depois de um dia de 8/9h de trabalho e com as preocupações diárias que a rotina assim “exige”, nem sempre é “fácil”. Quando a aula termina, é uma delícia e invade-nos aquele pensamento sempre “ainda bem que vim!”, mas sair do trabalho, atravessar a confusão do trânsito de final do dia (pensar no trânsito ainda pós-laboral que se irá apanhar depois da aula!), chegar lá e começá-la, nem sempre é a coisa mais sedutora do mundo… por mais que amemos e nos dediquemos à nossa prática, por mais que nos esforcemos e mesmo em alturas em que temos perfeita noção que se não formos àquela aula, dificilmente iremos compensar a prática em casa. Ufa, que correria. (Fiquei cansada só de escrever estas últimas linhas, eheh...) Ora bem, para nós que andamos aqui no lufa-lufa da cidade e ainda conseguimos ir a uma aulinha às 19h00, só sentar no tapete uns minutos para aquietar é um desafio gigante. A cabeça não pára, é assim que a habituámos há muito tempo. Não há botões mágicos, nada. Só mesmo a nossa concentração, essa sim, consegue coisas e efeitos mágicos. É como tudo na vida, uns dias melhor, outros pior. Portanto, atrevo-me a dizer que por mais anos que passem e se ganhe espaço, se melhorem posturas, flexibilidade, etc, aquilo que a minha caminhada me tem mostrado é que é TUDO impermanente, tal como a forma como olhamos para o mundo, para o yoga e como praticamos, claro.

http://www.econesting.com/wp-content/uploads/2012/01/Liza-yoga-cartoon500.jpg 
No meu trilho pessoal, já tive alturas em que praticava asana duas vezes por dia e agora que olho para esses tempos, reconheço que fazia tudo menos yoga. Fazia posturas e mexia o corpo, é certo, mas a minha cabeça não estava alinhada com o coração, mas sim com o ego. Estava numa boa condição física (como nunca pensei que o yoga permitisse!), tinha bastante tempo livre e a prática de asana matinal e ao fim do dia tornou-se, praticamente, uma obrigação. Mas…ficava com um sentimento de culpa estranho, caso não praticasse. Ora bem, isso não será violentar-me? Não se confunda disciplina com inflexibilidade e intolerância. Lá está, o limbo entre o equilíbrio e desequilíbrio é aquele ponto que não se vê, quase, mas que existe. Um bocadinho mais para o lado e caímos, daí a dificuldade em mantermo-nos no meio. Se fosse fácil, não precisávamos de passar a vida toda a aprendê-lo. Ainda que, também, por vezes, seja necessário ir aos extremos para se descobrir o que não se quer e ir algures ali até ao meio. 


Yoga para mim é consciência, é ter a humildade de olharmos para dentro, mas aquele dentro em que cumprimentamos o “ego” -reconhecemo-lo mas não o alimentamos nem focamos a atenção unicamente nele – e tomamos consciência de nós e dos outros. De nós com os outros e com o mundo em geral. Yoga é vestirmos o papel de observador a toda a hora, mas sem que isso represente uma obrigação, é algo que se vai tornando quase que inconsciente, por mais paradoxo que possa soar. É uma consciência constante e permamente nesta impermanência da vida, nestas rotinas em piloto-automático, em que agimos de forma quase que desligada de tudo e de todos.


https://forklores.files.wordpress.com/2013/09/bird-yoga-cartoon.jpg

Yoga é respirar consciência, observação, humildade e a tão bela “compaixão”. E parece um paradoxo, da mesma forma que é necessário concentrarmo-nos para nos abstrairmos ou estarmos atentos a nós de tal forma para nos conseguirmos observar e tentar compreender e ter compaixão perante o próximo. Afinal, só um “desapego” e uma “acção verdadeiramente desinteressada” nos vai conduzindo a qualquer lugar melhor que este. 
A música que agora ouço enquanto escrevo é de Fink e chama-se “Truth beginse o refrão refere algo como “Layers on layers, layers on layers. The journey unravels, and the truth begins, begins, begins”. E o yoga anda de mãos dadas com a vida como se de camadas se tratasse. Se cada passo que damos é mais uma camada que acumulamos a outra e a tantas outras camadas e camadas de caminhadas e aprendizagens, em algum momento percebemos que não percebemos nada mas que a quietude é o melhor amigo das dúvidas, do receio, do apego… O olho do furacão é sempre o local onde as condições atmosféricas são mais amenas… Eis que a “verdade” aparece. A nossa verdade, o que faz sentido para nós, a forma honesta e tranquila de estar na vida, perante os desafios e as dificuldades e o sofrimento. Se nos desapegarmos dos apelos constantes a que o nosso ego reage pelos estímulos todos lá de fora, do dia-a-dia, seremos, sem dúvida, mais verdadeiros connosco próprios. 


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Yoga não são só asanas (ainda que durante muito tempo tenha pensado que sim), não é sentar de pernas cruzadas, respirar e fazer “jñána mudrá”, emitir o som “Om” e desejar paz para nós, os outros e o universo. Não é perpetuar clichés nem continuar a dizer aquilo que o Yoga não é (ou não deveria, pelo menos, ser!). Podia também lançar a provocação que é só arranjar tempo para respirar e expandir, mexer o corpo, já que é o nosso veículo para essa mesma expansão e viagem e, pronto, só falta alinhá-lo com a mente. Afinal, trata-se “apenas” de unir o coração e a mente. O que fazemos para o conseguir é a caminhada da vida… E talvez partamos sem o conseguir fazer mas, pelo menos, existe a intenção (e acção!) de viver conscientemente. A descoberta do que andamos para aqui a fazer, do que é poder viver conscientes, fieis e verdadeiros connosco e com os outros. Amar de forma livre e incondicional, passar a ver a vida e a vermo-nos de outra forma. Não necessariamente de forma oposta à que vivíamos antes mas, por norma, os vários relatos e histórias que ouvimos, referem-se sempre a um “antes” e “depois” do yoga na vida das pessoas.


Há mesmo quem mude radical e repentinamente e passe a rejeitar todas as rotinas e processos desenvolvidos até à introdução ao yoga. Há variadíssimos desabafos e textos sobre as mudanças e alterações na vida de cada um, é comum referir-se a forma como se olha para a vida e isso pode implicar a alimentação, as rotinas diárias, até mesmo os amigos e companhias que sempre fizeram sentido para nós, tal como determinados padrões comportamentais. E, de repente, mergulhamos numa bolha cujo timing depende de cada um… e as mudanças se podem ser subtis e vão acontecendo tão internamente que, quando se sentem, são enormes.

Há quem não consiga abdicar de todos os hábitos de outrora, há quem os mude totalmente. Há quem se afaste do círculo de amigos habitual e passe a não conseguir gerir antigas relações, há quem deixe de fazer determinados programas, há quem aprenda a gostar de estar sozinho e há quem passe a apreciar e a aperceber-se do quão necessário é ouvir o silêncio.


Pode haver, também, uma fase em que durante a descoberta desta forma de ver o mundo - como se tudo fosse mais transparente aos nossos olhos e estivéssemos mais conscientes e sensíveis ao mundo em geral e, quase que paradoxal e simultaneamente, mais abstraídos dos impulsos desse mesmo mundo – nos julgamos mais atentos que os outros. Ora bem, lá está o ego a pregar-nos uma partida. “Ego” talvez tenha sido a palavra que mais ouvi da boca do meu primeiro e querido professor de yoga… “ego” para aqui, “ego” para acolá… e como o significado atribuído às palavras varia em função, quer das áreas de estudo, quer do contexto, eu lá me questionava sobre algumas coisas que a Psicologia me dizia… Não há problema em ter ego, aliás, temos de o ter, desde que não o deixemos conduzir-nos por esse mundo fora. Senão, a visão que temos sobre o mundo será sempre de dualidade, de separação: de nós e dos outros. E o que o Yoga me tem ensinado, enquanto forma de viver, é exactamente o oposto. É união. Sem querer cair em redundâncias, talvez tentar explicar o que é Yoga parta mim seja mais fácil do que julguei…(como se a simplicidade não trouxesse consigo toda a complexidade do processo até lá…). Se escrevo estas coisas (num registo bem oral, diga-se de passagem), talvez seja porque me revejo plenamente nestes processos todos. 


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Enquando continuo a escrever, continuo a ouvir Fink, desta vez, uma música em que ele colabora com Bonobo (“If You Stayed Over”) e que tem uma passagem: “Breathe in the future, breathe out the past”, curioso como esta metáfora poderia ser utilizada, se o passado representasse as preocupações e lições aprendidas e o futuro, apenas as coisas boas, as expectativas, a esperança. Mas daqui podemos sempre saltitar para outra questão: e por que não inspirar e expirar o presente, apenas? Claro que a construção do que somos é a soma de tudo o já fomos, mas não dispendemos demasiada energia a pensar no passado e a projectar o futuro? Andamos sempre aos trambolhões de expectativas e furacões de emoções… Se yoga é, também, a consciência de tudo “aqui e agora”, se não há mais nada além disso, se tudo é impermanente, então que estejamos a 200% no agora porque é a única certeza que temos, é de estarmos aqui. 


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Consciência, liberdade, verdade, "permanência"na impermanência, evolução, caminhada, luz …são palavras que associo ao Yoga. Felicidade e consciência. E a (tão tramada por tão difícil que é, por vezes!) compaixão que vem com a aceitação.

Yoga é respirar contemplação, abraçar o sol da consciência e viver de forma mais livre, tolerante, flexível e feliz. Primeiro connosco próprios, numa lógica do desapego e sem dar grandes ouvidos aos pedidos do ego e, depois, com os outros e o universo em geral. E tudo vem por acréscimo…pensar em várias opções e tentar ver o mundo de outra perspectiva. Não é só quando estamos no tapete, numa invertida, que vemos o mundo ao contrário. É preciso fazê-lo sempre que os desafios destes novos ritmos nos preguem sustos. 

Yoga é arranjar espaço dentro (e de dentro para fora) de nós. Expandir a caixa toráxica, a capacidade respiratória, a flexibilidade, a força, etc, claro…

E expandir, acima de tudo, a consciência… e o coração.

Monday, September 28, 2015

You don't want to hurt yourself.

Há alturas assim, em que só nos apetece aquecer o coração com sonoridades que nos confortaram noutros tempos. 
Esta é do novo álbum do rapaz, que, aliás, já nos tinha mostrado que podia ser um... "Hard Believer".  ;)

"This is a song about somebody else
So don’t worry yourself, worry yourself"



Monday, September 21, 2015

Thursday, September 17, 2015

transformações.


Entre chuviscos, apertos ariscos e partidas serenas, também o cinza se transforma.

As últimas semanas têm sido uma aprendizagem a velocidade que nem sabia que podia existir. Foi pouquíssimo tempo para processar tantas mudanças. Afinal, o tempo é mesmo uma abstracção. 

Em forma de homenagem a quem parte deste mundo físico, deixo esta imagem, abaixo.
A Chila partiu serena e feliz, rodeada por quem a amou, incondicionalmente, tal como o Amor dela por nós.

Afinal, arrisco-me a dizer que só o amor livre pode ser incondicional. E os animais, com a sua sabedoria, ensinam-nos o mais subtil do tudo. Ensinam-nos a amar, a observar o lado mais frágil de nós próprios e descobrimos que, afinal, até temos uma perninha de guerreiros.
Eles são guerreiros determinados. Escolhem-nos e escolhem quando partir. A magia de crescermos com eles é, precisamente cada passo, cada gesto, por mais mínimo q seja. Ser mãe deve ser algo do género. Nunca fui mãe mas o elo que desenvolvi com a minha princesa felina foi algo de mágico, tal como a sua partida. A morte pode, de facto, ser um processo "mágico", de aceitação e transformação. A morte traz quietude. Uma quietude que só existe na serenidade de quem aceita. O aperto angustiante transforma-se no aperto da saudade. O amor e a morte precisam de caminhar de mãos dadas com a liberdade, para pacificarem o desassossego e inquietações deste mundo físico. Afinal, só aquilo e aqueles livres conseguem amar, aqui ou noutro lado qualquer.
Aceitemos o processo e o tempo que o próprio tempo precisa. Afinal, o tempo é uma abstracção. O Amor também o é....mas acreditamos que é real, seja lá o que isso for.
Aceitemos, confiemos e transformemos.

Um aluno de uma tia muito querida, uma vez disse-lhe: "A terra  é bela. Meninas saltam esmagando a terra. E o sol abre um sorriso azul na boca das nuvens."
Chamava-se Zé Carlos, "tinha 12 anos e era pastor de ovelhas, como o pai. Não falava e, pelos vistos, não comunicava com, praticamente, ninguém." 


Pois é, Zé Carlos... A vida é mesmo bela e o sol abraça-nos com o seu sorriso.
Cabe-nos a nós observar e transformar o arco-íris dentro (e fora) de nós.



  
Lovely Chila (2004 /// 14-09-2015)

Thursday, September 10, 2015

o segredo das relações. (?)

"What's the secret of a relationship?
Don't get into one!"

And if you're already into one, get out of it!"

Reflexão muito interessante e com um toque de um delicioso humor sobre os relacionamentos, por Rajshree Patel. Afinal de contas, o que andamos aqui a fazer "nisto" das (nossas) relações? Queremos estar com alguém de forma harmoniosa, apaixonada e pacífica? Ou queremos estar com alguém e ter (sempre) razão? Por norma, o nosso ego quer ter razão e isso dificulta qualquer relação e traz o distanciamento que tanto queremos evitar...Será que faz sentido? Será que devemos dispender a nossa energia nisso e na negatividade de uma discussão conjugal superficial matinal (que, claro, para nós é a coisa mais importante daquele momento)? Se calhar, o "segredo" para nos relacionarmos passa pela aceitação, observar aquele "ponto" em que percebemos que não precisamos de ter razão nem que os outros adoptem a mesma opinião/posição que tomamos relativamente a determinado assunto. Seja a forma como pegamos na pasta de dentes (exemplo brilhante dado por Rajshree Patel), seja outra coisa qualquer. Para isso, precisamos de praticar o lado observador que todos temos... Algo que não é fácil quando se está no olho do furacão (curiosidade: expressão comum e erroneamente utilizada, tendo em conta que, segundo a ciência, o olho de uma tempestade é, precisamente, o local onde as condições climáticas são mais amenas!)...
Bem, afinal de contas, podemos todos dizer que queremos amor mas, acima disso, só queremos ter razão. E não falo do alto da minha moral e condescendência, falo contra mim própria. Passamos grande parte da nossa vida a dizer "eu sei, eu sei", "eu compreendo o teu lado mas...". Enfim, teorizamos na perfeição e agimos com o ego no umbigo (e no coração!) Se calhar deviamos abandonar mais o uso do pronome pessoal "Eu", tantas vezes utilizado nos nossos discursos. Reflictam: quantas vezes começamos uma frase por "Eu", durante o dia? E quantas vezes o fazemos quando nos dirigimos aos nossos/as respectivos/as companheiros/as? Afinal de contas, é sobre "mim" ou sobre "nós"? E não confundamos liberdade/vontade individuais (que devemos manter e nunca nos anular em prol do outro, claro) com o bem-estar e harmonia geral do casal, essa construção feita pelo par. A vontade de dois e a adaptação e gestão de cada um. 

O mundo não é nem tem de ser feito à nossa medida. Os outros não têm de usar a mesma lente que nós... Quando acusamos o outro de intolerância, teimosia e pouca abertura, etc, não estaremos a cair, precisamente, no mesmo erro e a perpetuar a mesma atitude que criticamos? Não queremos, no fundo, moldar a visão dos outros à nossa? Porquê validar a nossa de melhor do que a dos outros? Só porque é nossa, provavelmente.
"Não é fácil abandonar as nossas posições", diz-nos Rajshree. E, de facto, não é. "E é aqui que entra a nossa prática, seja a meditação, respiração, o yoga". Elevar o nosso "prana" (energia vital), além de nos expandir o sistema respiratório, a energia em geral e a nossa mente, expande-nos a nossa visão e forma de estar no mundo. Expande-nos. "Tornamo-nos mais e mais expandidos. Pequenas coisas não nos abalam." A nossa tolerância e o entendimento que temos do mundo, dos outros e de nós próprios expande, tal como a nossa caixa respiratória numa saborosa e nutritiva inspiração. Como diz a minha amiga e professora Catarina, "elasticidade não está só no corpo, mas sim na mente, acima de tudo". E segundo Guruji, mencionado pela Rajhshree, "pequenas discussões são apenas UM grão de areia nos nossos olhos", que continuam a entrar sistematicamente no nosso sistema.
O que é mais importante? O que é que queremos, verdadeiramente?
Ter razão ou ter Amor?

"Keep your peace, keep your harmony."



"The universe set it up so that with your friends, family, parents and life partner, the thing you need to learn about you, will be in front of you.

The only reason for people to come together is because they want to give love, and in the process of giving something beautiful happens.

At the end you want love, harmony and peace. And the only solution is to give, and when you feel you cannot give, that is when you have to give more.

Why does love feel us so vulnerable?
Vulnerability is your greatest strength. When you are born, you are born open, available, giving.

You are just love."

Rajshree Patel - 04/03/2015

Artigo "Success in relationships", no Huffington Post.

(Recordei este vídeo, já partilhado pela minha querida amiga e professora de Yoga, Catarina Mota, no blog dela.)

Wednesday, September 9, 2015

a vida acontece: acerca dos processos de perda.

 Acerca da perda. Acerca da morte.
Procurar o equilíbrio, a paz interna, continuando a viver, enchendo-nos de amor, poderá ser a maior homenagem a quem parte?

Abaixo, a sábia Rajshree Patel.



E uns minutos de reflexão por Sadhguru(Jaggi Vasudev), - goste-se dele ou não - que reforça que o processo de perda, mais do que a morte a acontecer, é o vazio que surge na vida, ficando esta "incompleta". A dor, o luto é uma "força incapacitante", não é?



Thursday, September 3, 2015

mostrar ou não mostrar?

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Um editorial do Público (justificando o porquê da publicação das imagens da notícia de um barco naufragado num lago da Turquia, onde vemos uma criança que foi dar à costa do lago) espoletou este comentário em onda de reflexão/interrogação. É um assunto discutível e discutido em todas as cadeiras, desde as dos anfiteatros universitários, às dos debates televisivos, ao banco do autocarro e/ou do café. A interrogação não é nova, as respostas também não...Mas, da mesma forma que, por vezes, preferimos não opinar, não pensar, tentar adormecer qualquer estímulo que nos toque à porta, assim como é preferível não racionalizar ou reflectir muito acerca de determinadas áreas da nossa vida, ainda acredito que estamos aqui para o fazer. Afinal, acredito que viver de forma mais consciente é um dos nossos propósitos...e só assim poderemos viver e ser livres (quer das construções q nós próprios elaboramos acerca de nós, quer das elaboradas acerca do mundo onde estamos). Acredito, profundamente, que a liberdade individual "só" pode (co-) existir aquando de mãos dadas com a consciência.

A linha ambígua entre mostrar a realidade ou cair no sensacionalismo...
Afinal de contas, é tudo justificável?
Não se publicam determinadas imagens, precisamente, pela exploração do horror e pela obrigatoriedade ética (e quase q moral) de manter a dignidade o respeito pelos protagonistas de determinadas "histórias"...?
Até que ponto isto é justificável? Até que ponto não se deve mostrar "ao mundo" entorpecido, o horror a acontecer na porta do lado? Será que ficamos tão insensíveis à tragédia humana pela invasão diária e instantânea de acontecimentos que ultrapassam, paradoxalmente, a capacidade humana de os digerir? Somos metralhados, constantemente, com tanta informação (tanto ruído para os nossos sentidos) que nem conseguimos assimilar que quando nos deparamos com uma imagem destas, das duas, uma: ou criticamos os media que os publicaram, apontando os argumentos anteriormente apresentados e, lastimando a opção dos mesmos; ou, pura e simplesmente rejeitamos quase que inconscientemente a repulsa indigestível de algo que nem conseguimos apreender, dada a overdose de notícias hediondas a roçarem nos olhos, na boca e no coração, a toda a hora. Ficamos como que entorpecidos, adormecidos entre tanto sofrimento alheio, ao ponto de criarmos algo que nem processamos. É uma defesa natural, protegermo-nos do medo e do sofrimento. É como quando ouvimos um grito com determinada frequência (entre 30 a 50 Hertz, segundo um artigo da Revista do Expresso, de 29/08/2015), e as nossas amígdalas são imediatamente estimuladas e lá são remexidas as profundíssimas áreas do "medo" e "ansiedade", colocando-nos em situação de alerta e "acelerando as reacções" perante o perigo. Será que bloqueamos essa área do nosso cérebro pelo entupimento constante de más notícias? Como reagir?

É legítimo não querermos reagir? É legítimo não querermos saber? É legítimo que "queiram" que queiramos saber? (Afinal, "o espelho da realidade", a responsabilidade individual e colectiva, o interesse público, cidadania activa da sociedade comum...) Podemos sempre fechar o jornal, fechar a página online, mas já não podemos ignorar aquilo que vimos e o nosso cérebro registou, ainda que queiramos esquecer. Já lá está. Não podemos fazer reset ao sistema em segundos. E está lá porque foi publicado pelo medium. Se a opção não tivesse sido essa, não teríamos sequer a milésima de segundo da oportunidade de registar aquela imagem. O que fazemos com ela e com a forma como digerimos o horror real já é responsabilidade nossa. Não diabolizemos nem entreguemos a responsabilidade total aos media. A sociedade civil também dita o alinhamento dos media, contrariamente ao que possamos pensar (e acusar!). A agenda não é criada a partir do nada. As coisas, por mais que queiramos acreditar que não, também são bilaterais. Quando optamos por nada fazer, já é por si só uma opção. Seja escolher não sentir, apagar, entorpecer, esquecer. Ou lembrar. Lembrar o clichê que a "realidade ultrapassa a ficção”.

Monday, August 24, 2015

saudades deste "miúdo".



(...)
"You tried to run from trouble when it comes
You followed the drum keeping time with everyone"

Thursday, August 20, 2015

live at peace with everyone.

"If it is possible, as far as it depends on you, live at peace with everyone."

Romans 12:18

Thursday, July 23, 2015

em branco.



Folha em branco.
Tudo em branco.
Nada.
Nada que nada, fica branca, a esperança.
Tábua rasa, em branco.
Transparências de nada.
Nada.

Mora

Friday, July 17, 2015

Thursday, July 16, 2015

serenidade, precisa-se.

"um dia não muito longe não muito perto."

Foto: Gregory Colbert (Ashes and Snow)

UM DIA NÃO MUITO LONGE NÃO MUITO PERTO


Às vezes sabes sinto-me farto
por tudo isto ser sempre assim
Um dia não muito longe não muito perto
um dia muito normal um dia quotidiano
um dia não é que eu pareça lá muito hirto
entrarás no quarto e chamarás por mim
e digo-te já que tenho pena de não responder
de não sair do meu ar vagamente absorto
farei um esforço parece mas nada a fazer
hás-de dizer que pareço morto
que disparate dizias tu que houve um surto
não sabes de quê não muito perto
e eu sem nada pra te dizer
um pouco farto não muito hirto e vagamente absorto
não muito perto desse tal surto
queres tu ver que hei-de estar morto?


Ruy Belo, in Homem de Palavra[s]

Friday, July 10, 2015


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Every day, think as you wake up, today I am fortunate to be alive. I have a precious human life, I am not going to waste it. I am going to use all my energies to develop myself, to expand my heart out to others; to achieve enlightenment for the benefit of all beings. I am going to have kind thoughts towards others, I am not going to get angry or think badly about others. I am going to benefit others as much as I can."
- Dalai Lama

Friday, June 12, 2015

a compaixão treina-se?

Numa altura em q ando a reflectir (?) bastante sobre o nosso papel neste mundo e o q andamos por cá a fazer, se nos compete a nós ou não limpar determinadas coisas (crenças à parte), dou por mim a (re)ler/ver determinadas ideias, discursos e a repensá-los, encorporando novas interpretações/sensações. Não há memória q não seja emocional e, como tal, há coisas q nos vão ficando gravadas, outras q nem tanto, ainda q elas serpenteiem constantemente no nosso sub-consciente...
E, numa fase em que, por vezes, existe alguma dificuldade entre distinguir assertividade de um tom directivo e zangado, fruto quiçá, de algum cansaço q nos tolda a visão e o coração, dou por mim a pensar bastante na compaixão praticada por este Dalai Lama... Tudo aquilo que pensamos fica registado em nós, tal e qual o histórico do nosso browser e, como não conseguimos configurar o nosso sistema para fazer reset/limpeza, nem sempre nos conseguimos limpar...E vamos acumulando e acumulando. E para quê e porquê? E por q devemos nós praticar a compaixão?

A trocar umas "cartas" com uma amiga, ela falou-me da forma de amar, de como gostaria de amar mais...e dei por mim a pensar nesta questão. Praticar compaixão é uma forma de amar o outro (incondicionalmente, dir-se-ia). Mas o que é a compaixão? Certamente não é pena, nem apego, como muitas vezes é referido em determinados discursos, não é um acto de amor intencional e com intenções de nos sentirmos bem connosco, um gesto de altruismo pressupõe o falta de intencionalidade por quem o pratica, ou seja, "que bem q me vou sentir depois disto". Ou seja, é aquilo a que algumas referências védicas poderiam dizer de "acção desinteressada". Não que esteja desprovida de interesse genuino no bem estar alheio, mas lá está, é o desinteresse do ego, de quem a pratica. É a preocupação pelo bem-estar alheio porque todos temos direito à felicidade, independentemente do nosso papel e das nossas acções. Esta perspectiva poderá, certamente, levantar algumas questões. Será q conseguimos desejar "tudo de bom" e paz a TODA a gente? Poderá aprender-se a desenvolver essa prática? É inato? Dalai Lama, no vídeo abaixo, fala de dois níveis de compaixão, aquela que nos é inata, ou seja, como que um factor biológico, a compaixão sentida de mãe para filho (essa é tendenciosa, pelos laços intrínsecos que lhes estão associados) e a outra, a capacidade de gerar e nutrir esse sentimento por seres com quem não sentimos qualquer espécie de empatia ou com estranhos...
Esse "nível" de compaixão já não nos é natural, já precisa de prática e de treino. E é possível? Precisamente por isso é que a educação da compaixão é possível e necessária. Sim, se treinarmos para isso. Mas, seria isso sinónimo de auto-sacrifício (?), como o próprio Dalai Lama responde, "não". Não devemo anularmo-nos nem descuidarmos o nosso bem-estar em prol do do alheio, de todo. Só pela compreensão e aceitação de que todos merecemos ser felizes é que desenvolvemos o sentimento de compaixão, segundo o mesmo. Naturalmente, será desafiador (no mínimo!) nutrirmos compaixão por alguém que não teve um comportamento tão correcto connosco e como "comportamento gera comportamento", não será fácil educarmo-nos e contrariarmos e/ou despegarmo-nos de sentimentos menos bons acerca de algo ou alguém. Mas é possível, sempre. Depende de como olhamos para a vida, de como querermos olhar para nós, para os outros e do que queremos fazer connosco e com os outros. Sairmos do centro do umbigo e ficarmos mais despertos e abertos para o mundo. Sermos mais felizes e percebermos que, apesar das escolhas e atitudes que os outros possam ter (boas, más, legítimas, ilegítimas ou não aos nossos olhos), todos temos o direito de ser felizes.

Se você quer que os outros sejam felizes, pratique compaixão. Se você quer ser feliz, pratique compaixão”.
(Tenzin Gyatso, o XIV Dalai Lama)



"TRUE COMPASSION IS NOT PITY OR ATTACHMENT IS THE UNDERSTANDING OF THE REAL EQUALITY OF ALL"

"A compaixão tem pouco valor se permanece uma ideia; ela deve tornar-se nossa atitude em relação aos outros, reflectida em todos os nossos pensamentos e acções."

"Melhorar o mundo é melhorar os seres humanos. A compaixão é a compreensão da igualdade de todos os seres, é o que nos dá força interior. Se só pensarmos em nós mesmos, nossa mente fica restrita. Podemo-nos tornar mais felizes e, da mesma forma, comunidades, países, um mundo melhor. A medicina já constatou que quem é mais feliz tem menos problemas de saúde. Quando cultivamos a compaixão, temos mais saúde."

Tuesday, April 28, 2015

Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.

Para além da curva da estrada

Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

Sunday, April 19, 2015

relativo à voz e/ou ao som das palavras.

Maravilhas da fonética

Texto de Nuno Pacheco (Público) - link abaixo






Há uns dias, por velhos impulsos e novas necessidades, encheu-se o anfiteatro 1 da Faculdade de Letras de Lisboa para discutir a malfadada questão do chamado acordo ortográfico. Mas esta crónica vai, como se verá, para além dele. É que, a dada altura, embora toda a gente falasse de ortografia, na verdade falávamos (porque lá estive, como convidado) essencialmente de fonética. Os episódios mais bizarros ali relatados acabavam, sempre, relacionados com os “sons” da escrita. Por isso, façamos uma pequena viagem ao maravilhoso mundo da fonética e, já agora, dos sons em geral.

Comecemos pela música. No Ocidente, sete notas (que conhecemos por dó, ré, mi, fá, só, lá, si) são suficientes para criar desde a mais básica balada à mais elaborada sinfonia. Mas, se valessem só por si, nunca o seu poder criativo iria tão longe. Sem as mínimas e semínimas, breves e semibreves, fusas e semifusas, colcheias e semicolcheias, sem uma sinalética própria das pautas musicais e que permite gerar os mais variados compassos, ritmos, melodias e harmonias, as sete notas definhariam.

Com as línguas passa-se o mesmo. Da primordial fala à sua expressão gráfica, há uma “pauta” que se desenvolve e expande para lá dos traços básicos do alfabeto. Numa das suas Charlas Linguísticas na RTP, em 1958 (editadas em livro nos anos 60), o filólogo Raul Machado criticava professores ou pais que, em tom autoritário, diziam a crianças com dificuldade de ler uma frase num livro: “Menino, leia o que lá está!” Como se dissessem: “O menino é parvo! O menino não sabe ler!” E dava como exemplo esta frase: “Os homens sentem e pensam.” Uma frase simples, que toda a gente lerá sem dificuldade. Toda a gente? Sim, toda a gente que já domina, mesmo que de forma inconsciente, as regras do código vocálico do português europeu. Se uma criança lesse mesmo “o que lá está”, com base no que aprendera no alfabeto, leria (dizia então o filólogo): Óss hóménnss sénntémm é pénnsamm. Ou, “em grafia sónica, a seguinte algaraviada: Óç hóménç çéntéme é pénçame”. Em vez disso, qualquer pessoa lerá “Uz ómãix sêntãi i pênsão”. No entanto, escrevemos “Os homens sentem e pensam”…

Isto, que assim dito dará cabo da cabeça a muita gente, pode ser apreensível de forma simples. Mas é mais simples ainda do que parece. Vejam-se as seguintes palavras: telegrama, telefone, televisão, merecer, delegado. Escrevemo-las assim, mas, na fala corrente, “limpamos” as primeiras vogais e dizemos (sem pensarmos nisso) tlgrama, tlfone, tlvisão, mrcer, dlgado. É esta natural erosão, própria da fala, que alimenta nos cultores da pretensa escrita “fonética” a teimosa vontade de tirar letras a palavras que delas necessitam para, no seu conjunto, soarem (quando lidas) de determinada forma. É isso que alimenta as anedotas a propósito do acordo ortográfico, e que levou, por exemplo, na Faculdade de Letras, Pedro Mexia a referir-se às jovens “arqui têtas” (a palavra arquitectas sem o “c” diacrítico) ou Ricardo Araújo Pereira a ironizar com “adeke” (adeqúe, sem o acento diacrítico).
Porém, se na língua portuguesa uma mesmíssima letra (vogal ou consoante) pode assumir vários sons, dependendo da palavra ou frase em que se insira, há idiomas em que se passa o contrário. O francês, por exemplo. Um fonema muito simples, que em português soa como “é” (o é aberto do português, como em ou peço), tem múltiplas formas gráficas neste idioma. Há, e citamos ainda Raul Machado, “pelo menos vinte e tal maneiras de grafar este fonema em francês: e (chef); é (fève); egs (legs); ei (reine); eil (soleil); eille (oreille); er (fer); es (tu es); ès (progrès); ect (project); êt (forêt); eis (regreis); est (il est); ai (aime); aî (maître); aie (monnaie); aient (chantaient); ais (jamais); ait (lait); aît (paraît); aits (faits); aix (paix); ay (châtenay)”.
Há quem veja nestas combinações maravilhas, e tire prazer da fala e da leitura; e há quem veja nelas apenas armadilhas monstruosas, que é necessário desmontar. É contra esses que pacientemente combatemos, para que fonéticas e grafias mantenham a harmonia e o prazer que lhes pertencem.

http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/maravilhas-da-fonetica-1692635

"hierarquia das nuvens".

"... know that you don’t always have to know." (Irina Verwer)



Tuesday, April 14, 2015

acerca de espigais azulados.

 ...onde nuvens e céus de azul, um "azul rouco" grave,
fazem de ti o que tentas adormecer, num silêncio que borbulha. 
...expelindo em borbotões o desapego da memória.
docemente enlevado, esse pedaço de azulácea frescura.
um azul sussurrante de tão gritante que é. 
sentido lenitivo.
cores amenas - contraste com o sussurro do azul, 
adoçicando o espírito,
quando o suspiro fica suspenso e o amanhã não existe. 
hoje o tempo perdura assim, 
azul e grave, 
de uma rouquidão ambígua, 
pendente nesse tempo tão individual. 
numa viagem odeada pela iminência do agora.
numa respiração anelante, aquela que sopra brandamente. 
como que sinónimo da própria existência, o lugar do azul pingente. 
o lugar que é só nosso, 
de cada um. 
aqui e agora.

Mora Abril'15



Tuesday, April 7, 2015

A mentalidade da carne

 Num período da minha vida, em que voltei a comer carne, deparei-me com esta TED talk bastante acessível e interessante... E, aplicando estas palavras de Voltaire a muitas outras coisas,
 "If we believe absurdities, we shall commit atrocities..."


Tuesday, February 24, 2015

o Amor tem...

O Amor tem de fazer cócegas.
Sempre.
Ainda que passado tempo e tempos, possa ficar mais morno e aconchegante, como uma "manta no sofá".
Ainda que o conforto traga a calma e a certeza próxima do companheirismo, da cumplicidade de quem já vive por cá. No nosso coração.
Na impermanência de tudo, de cada instante, de cada momento respirado, o conforto é rei, mas as cócegas querem-se sempre. O burburinho de quem suspira quando vê o outro chegar. Quando o vê entrar depois de se ausentar, ainda que diariamente, na rotina da vida a dois, da vida de cada um.
O Amor quer-se tesudo, sempre. Quer-se romântico e confortável. Quer-se existente, permanente, mesmo na ausência.
O Amor quer-se quente e fogoso, mesmo depois de anos, de meses, de dias. De horas. Querem-se horas que queimem bem, cuja digestão seja saborosa e cujo metabolismo esteja equilibrado, ainda que umas vezes melhor, outras mais lento.
O Amor quer-se aqui e agora, por mais anos que passem, por mais horas que sussurrem no coração de quem por cá anda.
O Amor quer-se permanente na certeza na impermanência. Na certeza da incerteza, na certeza de que não se sabe se amanhã continuamos juntos.
O Amor quer-se vivo e com brisas que arrefeçam a monotonia dos dias, dos acordares rápidos, lentos, esquecidos ou apressados.
O Amor quer-se capaz. Capaz de amar ainda mais, de sorrir e cambalear de paixão e emoção a cada história que passa, a cada capítulo construído. A cada página em branco que se vai preenchendo. Inebriante e sussurrante. De encantar, por encantar, em constante deleite.
O Amor quer-se contínuo e crescente, como que livro por acabar, cujas sequelas parecem infindáveis, cujos capítulos parecem preceder a algo sempre por preencher.
Por mais aconchegante que o tempo reconforte o Amor, este quer-se em lume brando, mesmo quando queima e dilacera bons momentos, inimagináveis. Mas que não se apague nem se mantenha em banho maria, mesmo quando brando. Que aqueça sempre. E que restaure.
O Amor quer-se sempre. E em tudo. Permamente na impermanência.

Mora
Fev. 2015


Friday, February 20, 2015

"as aparências apagaram-se"

Almonds Blossom, V. Van Gogh

 A Festa do Silêncio

Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.

Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"


Wednesday, February 18, 2015

contos de fadas.

Agnieszka Szuba

"If you want your children to be intelligent, read them fairy tales.
If you want them to be very intelligent, read them more fairy tales."

Albert Einstein

Tuesday, February 10, 2015

atravessas...

atravessas o ermo,
junto àquele rio de cor de peixe,
onde escamas reluzem à sombra
do mais celestial brilho soalheiro
que o teu sorriso provoca ao acordar.

ei-lo, por fim. esse reluzir quase que fresco
de tanta brisa o percorrer,
com a suavidade de semear o amanhecer,
esse acordar, tão terno e aconchegante.

e com os primeiros raios que sorriem
pelos ramos das sombras brincalhonas,
com o sussurrar do vento de norte
que irrompe sem sequer se fazer notar,
até que acordas desse sono constante
de ternura e cafunés ao adormecer.

atravessas o sorriso
do mais discreto acordar,
do sono leve e profundo de quem
se deixou aconchegar,
de quem se escapou à insónia perturbante,
outrora vivida, agora distante.

sorris e fazes sorrir,
no terno abraço
desse corpo,
reluzente e ofuscante,
da cumplicidade deste mar ondulante.
 
Mora
 09-02-2015

Thursday, January 29, 2015

acontece a.

Por entre paredes
e ares saturados,
no sal permeável da tua vivência,
molda-se o ajuste ao apoio de afecto
que irrompe no receio de menos um dia.

quando acontece,
surge brusca e de repente,
inesperado o anúncio da mudança.
fazem-se escolhas, ainda que por instinto,
sobrecarregam-se expectativas e frustram-se receios.
reconstroem-se ideias e teorizam-se acções,
remexem-se emoções e digerem-se anseios.

um dia acontece,
um dia aparece,
um dia parece que não é dia
e o medo acontece.

acontece a morte,
daquela que foi a vida,
do que é viver
e saber que se está a morrer.

todos os dias.
 Mora' Janeiro 2015




Thursday, January 22, 2015

olhar para nós de fora.

«… é como olhar para dentro de nós mesmos com os olhos dos outros (…).”, encontrei este comentário a propósito de uma crítica cinematográfica. E achei-a magnífica.

Às vezes precisávamos mesmo de conseguir colocar esta lente. Olhar para dentro de nós com o distanciamento que só os outros o conseguem fazer (e, por vezes, nem sempre é possível com pessoas próximas do nosso coração…). Precisamos, acima de tudo, de olhar para dentro. Passamos grande parte da nossa vida a olhar de dentro para fora. E de dentro do nosso umbigo para fora, para os umbigos dos outros. Olhamos mas não vemos, andamos mas estagnamos, avançamos mas parecemos recuar, enfim, uma série de acções que poderíamos considerar de avant qualquer coisa, mas que, na prática, só servem para nos fazer ter de dar mais passos e, muitas vezes, andar às voltas e voltas e voltas…  

Não chegamos aos sítios que queremos, verdadeiramente, por andarmos sempre à volta daquilo que achamos que queremos. Não caminhamos nem percorremos, antes corremos. Passamos a vida a correr, daqui para ali, dali para acolá, de acolá para cá. E os sussurros internos passam despercebidos, umas vezes mais, outras menos. Ouvimos sinais mas fingimos que não. Sentimos sintomas mas fingimos que não. Corremos e achamos que só assim vale a pena viver. De um lado para o outro, numa correria cheia de adrenalina e apertos. Numa correria que, se antes gostávamos e até nem encontrávamos outra forma de estar, depois torna-se um ciclo do qual nos custa despegar, e já somos, ainda que já seja altura de parar, olhar e ver. “Quem corre por gosto não cansa”, mas cansa andar sempre a correr. Correr para fora, para longe… Quando aquilo que mais precisávamos era de dar um passo de cada vez e para dentro. Dentro de nós, não do nosso ego. E passamos a vida nisto. A confundir egos e vontades, a servir pretextos e desculpas, a afastarmo-nos de nós próprios em prol de qualquer justificação que a mente consiga arranjar. “A mente mente monumentalmente.” E quando queremos, somos óptimos a mentir a nós próprios, sob qualquer necessidade/vontade. Há que escutar... o que vem de dentro, mas mesmo de dentro e não à superfície. Servir o ego pode saber bem, mas dura pouco e só produz algo parecido a ilusão, em sânscrito poderia dizer-se “maya”. É infrutífero. A caminhada diária passa, precisamente, por conseguirmos descolarmo-nos da ideia de nós próprios, dessa auto-imagem que tanto tem de ilusória como de estéril. Termina rápido ou não, até podemos passar a vida agarrados a essa mesma máscara e nem sequer conseguir despi-la. 

E do que sinto podermos sentir/experimentar, quando – ainda que seja por breves instantes - nos conseguimos descolar do ego e vivenciar a humildade genuína da nossa essência, do nosso ser, experimentamos algo quase que mágico. E não deveria sê-lo. Deveria ser o nosso estado natural, mas com tantos estímulos ao nosso redor, torna-se tarefa árdua combater o nosso próprio ego. É uma dança necessária, uma dança que se faz a cada segundo, por mais antagónico que possa parecer: ser o mais natural possível, estando sempre consciente de nós próprios e contrariar as vontades mais egóicas (umas vezes tão primitivas, outras tantas vezes tão rebuscadas!). E longe de que este tom possa insinuar alguma superioridade ou dualidade acentuada, de todo. Falo, essencialmente, para mim. Como fazemos a maioria das vezes, ainda que achemos que falamos para os outros. 

Definitivamente, precisamos de fazer mais silêncio para conseguirmos ouvir (a nós e aos outros) e para conseguirmos comunicar melhor connosco e com o que nos rodeia. Parar, observar, escutar e sentir. Sentir e unir corpo e mente. Encontrar uma forma harmoniosa de nos conhecer e viver.




Tuesday, January 6, 2015

aqueles: eles e nós.

Uma amiga enviou-me uma bela mensagem nesta altura de Natal e entrada no novo ano. E gostei tanto deste excerto que não resisti em partilhar. Obrigada, Maria José.
 
"Aqueles que passam por nós,
não vão sós, não nos deixam sós.
Deixam um pouco de si,
levam um pouco de nós."

Antoine de Saint Exupéry
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