Tuesday, February 23, 2016

coração e mente.

O que chamamos “Coração”
é mais que afectos.

O que chamamos “Mente”
 é mais que ideias.

Sejamos Coração que pensa
e Mente que sente.

(José Arregi)

Tuesday, February 16, 2016

Andamos todos de coração apertadinho e não dizemos a ninguém.



Andamos todos de coração fraquinho e não dizemos a ninguém.
Andamos todos a correr para lado nenhum mas convencidos que para todo o lado.
Andamos todos de coração apertadinho mas proclamamos disponibilidade em todas as direcções.
Andamos todos de vendas e olhos fechados mas a espreitar por todas as janelas alheias.
Andamos todos querer saltitar e sair mas ficamos seguros no ninho confortável do receio e do medo.
Andamos todos a respirar inquietude e a declamar serenidade.
Andamos todos em contra-tempo quando o tempo nos pede tempo.
Andamos todos a querer amar sem saber como.
Andamos todos metidos para dentro, ainda que aliados à exposição.
Andamos todos por aqui ainda que acreditemos que estamos mais à frente.
Um passo mais à frente. Um passo mais atrás. Um passo para o lado, para o outro lado.
Para aqui, para acolá. Andamos todos sozinhos, no meio da confusão
Andamos todos à procura do nosso passo.
Um passo em direcção aos afectos.
Andamos todos de coração apertadinho e não dizemos a ninguém. 




Thursday, February 11, 2016

gosto cada vez mais dos cinzentos.


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Gregory Colbert [Ashes and Snow]

Gosto cada vez mais dos cinzentos.
Nem preto, nem branco.
A cinzentude do mar em dias de Inverno que nos abraça como que num gesto reconfortante.
A variação cromática e o degrade do nosso alfabeto emocional (ainda que muitas vezes a percepção seja de analfabetismo emocional total).
O suspenso da velocidade dos dias que correm e a indefinição do infinito.
A mancha míope das certezas que, impermanentemente, confundem os ritmos do corpo, do coração.
Gosto da quietude da impermanência, 
de saborear cada momento com a serenidade ou excitação volante desse instante. 
Uma quietude de quem, garantidamente, não sabe o momento seguinte.
Uma quietude inquieta de quem reconhece as palpitações intermitentes do seu lugar no espaço.
Uma quietude de quem aprende que tudo tem potencial de passar e perder a força de outrora.
 Gosto de cinza e de púrpura, dos tons violeta com que podemos filtrar a realidade e memórias afectivas: limpá-las e resgatá-las do “vazio” e do “peso” que lhe atribuímos, que carregamos, muitas vezes sem noção de que elas estão cá. Gosto do púrpura dos dias como este, em que o cinza irrompe serenamente, sem o peso do Inverno nos olhos. Sem o peso de quem não sabe onde está, mas sente-se melhor do que já foi.
Gregory Colbert [Ashes and Snow]

somos peritos a afastarmo-nos de tudo o q somos. e quando mais precisamos de ser. sempre precisei de escrever e, se antes o fazia com regularidade, numa outra altura afastei-me e só o fazia como analgésico. quase que algo muito "teen", até, agora q olho para trás. mas penso q já na altura tinha alguma noção disso, tanto q pensava "porquê". gostava de escrever quando estou bem. e acho q só nos últimos anos o fui conseguindo fazer. numa escala muito menor mas alguma.

quando nos afastamos de determinado foco, podemos deixar a nossa própria essência em suspenso. como que sintomático de algo que não está onde devia estar. ou as coisas estão sempre no sítio certo e nós é que não? há dias, a caminho de uma aula de yoga, ainda que em contra-tempo, parei o carro durante 10mins, fui à beira-rio (que privilégio!) e despejei palavras com ou sem sexo. pouco importava. só mesmo a corrente fresquinha da orvalhada fora de hpras enquanto podia libertar-me mais um bocadinho. a palavra é terapêutica. surte efeitos a curtíssimo prazo. aliás, é mesmo uma libertação em tempo real. nem precisa de "curto espaço de tempo". a escrita dissipa o apego e sofrimento. potencia e ajuda à libertação. seja do q for.

nesse dia libertei os pretos e brancos e acarinhei os cinzentos num contemplado parêntese.

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