Monday, October 8, 2007

"Malgré Nous, Nous Étions Là"


Era uma vez a dança...


Ironia, sarcasmo, humor camufladamente flagrante, leveza, magreza subtil e cheia de forma, domínio perfeito das regras para serem quebradas, tropeções perfeitos, elasticidade natural é aquilo que me ocorre quando penso no espectáculo da Companhia Paulo Ribeiro, no passado sábado, no TNSJ: “Malgré nous, nous étions là”.

Afinal de contas o que é a dança contemporânea? Toda a ironia utilizada durante os 55 minutos por Paulo Ribeiro e Leonor Keil serve para (não) nos responder a essa questão e o público percebe e solta gargalhadas.

Segundo palavras do próprio coreógrafo, “A questão de decifrar a dança ou de procurar uma narrativa na coreografia tornou-se, em certa medida, uma obsessão (...) A seu modo, há aqui um gesto provocatório e despistante – é como se disséssemos “nós não estamos a dizer nada” querendo na verdade dizer tudo e contar uma série de coisas (...)”.

“Nós não estamos a dizer nada”, dizendo tudo, criticando tudo, e fazendo do objectivo da dança contemporânea (que será “perturbar”?,”provocar”?,”fazer pensar”?), o objecto de ironia de todo este trabalho.

A osmose entre Paulo Ribeiro e a sua mulher, a bailarina excepcional Leonor Keil, torna-se controversa quando a dualidade de ambos adopta diferentes posturas perante a pergunta “Em que plano situam o vosso trabalho?”. Paulo Ribeiro sente-o como crítica e reflexão sobre o que é, de facto, a dança contemporânea, como descodificá-la. Para Leonor, “esta peça é uma peça sobre amor, beleza, relação de homem/mulher, irmão/irmã e toda as milhentas histórias que se podem gerar entre duas pessoas de sexos opostos que se encontram.”

Apesar das diferentes visões e perspectivas, a dupla encarna e traduz perfeitamente a união num cenário submersamente aquático.

Paulo Ribeiro e Leonor Keil juntos, cúmplices e suspensos numa peça que tudo diz sem nada ser dito directamente.


[citações directas e dados retirados do manual de leitura oficial do TNSJ sobre a peça “Malgré Nous, Nous Étions Là” ]


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