Tuesday, November 11, 2008

Matthew Herbert Big Band @ Casa da Música

[report audio aqui]

Matthew Herbert HUGE Band?


Foi nesta segunda-feira húmida, na sala Suggia da Casa da Música, que Matthew Herbert e a sua Big Band reciclaram o conceito de jazz experimental com a performance dos 16 elementos em palco orquestrados pela criação complexa do britânico.

A apresentação do novo trabalho "There's me and there's you" foi o mote para a passagem por Portugal.

Herbert inspira-nos. É músico, engenheiro de som, arquitecto, inventor, produtor, compositor: é um criador. Neste último trabalho, pega em temas fortes e políticos como o poder e mune-se de uma parafernália de sintetizadores que lhe permitem explorar toda a plasticidade das composições harmoniosas criadas, por mais desconstruídas que possam soar. Herbert reinventa. Traz um conceito bem definido à produção e recriação do poder da electrónica que se coaduna com o brilhantismo acústico conseguido pela banda. Usando apenas sons do dia-a-dia, que fazem parte da vida e captados no momento, Matthew Herbert é bem claro no que toca à utilização dos mesmos: é proibido sons sintetizados que simulem instrumentos acústicos. Chegou mesmo a escrever sobre os métodos de composição no manifesto intitulado de "Personal Constract for the Composition Of Music".

Depois dos primeiros arranjos, eis que surge a voz límpida, poderosa e arrepiante de Eska Mtungwazi que aquece de imediato os ¾ da sala, de forma ora doce ora sonante.

Todo o espectáculo é um estímulo à criatividade, onde se comprova o poder do conceptual, quando é estritamente pensado e conduzido inteligentemente pelo músico de formação clássica, que estudou teatro e aprendeu piano e violino aos 4 anos.

Tal como Almada Negreiros está para a proliferação dos vários "ismos" de vanguarda, o imaginário de Matthew Herbert e a sua instrumentalização estão para um conceito único da própria vanguarda. O britânico rompe, versatilmente, as fronteiras do digital e manipula o conceito experimental do jazz conseguido pelo conjunto de sopros, piano, contrabaixo e bateria.

No palco, os 16 músicos contracenam com a orquestração Herbertiana - se é que me é permitido empregar esta adjectivação – e partilham uma empatia contagiante onde o próprio Matthew sapateia entre as suas engenhosas brincadeiras e a big band dirigida por Peter Wraight.

A relação cúmplice com a vocalista é evidente: os dois conseguem coordenar-se mesmo quando o produtor tenta confundir o público com as reposições trabalhadas da voz de Eska, gravadas minutos antes. A dada altura, pensamos como é possível ela não se perder nos jogos de (des)construção do britânico e a própria acaba por materializar a mesma complexidade do músico.

Momento curioso: a prova da imaginação de Herbert quando se dirige ao público, "Today we are reading FLASH!" e demonstra o poder sonoro e teatral do ritmo marcado por jornais e revistas (entre elas a cor-de-rosa Flash) a serem rasgados por todos. A guerra de papel que se seguiu realça o sentimento divertido dos músicos, que fizeram de revistas um instrumento, utilizando-as simultaneamente como confetis.

O concerto seguiu uma linha entre o curioso e o inesperado. Apesar das grandes expectativas que já se tem da banda do talentoso experimentalista, a banda divertiu-se a confundir o público com as surpreendentes e agradáveis sensações com que o presenteou. Matthew Herbert Band faz o absurdo, na mais inocente acepção da palavra, parecer normal e consegue que o não convencional seja recebido com sorrisos por quem o ouve.

Podia esperar-se mais uma espécie de autismo justificável (e desculpável) pela capacidade fecundante da criação complexa do compositor mas tal não se verifica, muito pelo contrário – é humilde e emana profissionalismo e diversão, num constante diálogo com o público.

Com uma hora e pouco de espectáculo que pareceu voar, The Audience, foi a recuperada música escolhida para acabar de forma audaz o concerto, num encore "suplicado" de bom grado pela audiência que, só aí, se revela fã do artista. A chave-de-ouro habilmente desenhada por Herbert foi a interactividade com que encerrou o concerto: incentivou o público a entoar a uma só voz, como se de um coro se tratasse, e fez magia com o som captado, fazendo do público parte dessa mesma "Audience" .

1 comment:

hugo said...

vê-se que és uma almost-jornalista comida! Inputaste-lhe signature!


P.s. - ja n sei escrever em português

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