Lembram-se do caso Ensitel? Que processou uma antiga cliente (um ano depois) por ter manifestado, no seu blog pessoal, a sua opinião e insatisfação acerca de um episódio que lhe aconteceu? É chato definirem-se barreiras ténues entre o que é pessoal e/ou público na web 2.0, não é? Ora bem, veremos se a Vodafone aplica a mesma estratégia com este curto post, no meu blog, repito, pessoal.
Ora bem, sou cliente Vodafone há uns anos e, na altura em que resolvi mudar e aderir a esta rede móvel, considerei-a vantajosa relativamente às outras, admito. Entretanto, nos últimos anos, surgiram os tarifários mega-hiper-super-vantajosos (!) - não há almoços grátis, não era? - , proporcionando aos clientes SÓ vantagens. O cliente opta pelo tarifário que, supostamente, lhe é mais conveniente.
Primeiro, os tarifários com SMS “gratuítas”, tudo ok. Adesão em massa. Entretanto, o tempo passa e surge o TAG. A Vodafone treme. A TMN lança o MOCHE, a Vodafone tem de concorrer. Surgem os Extravaganzas e a Vodafone volta a tremer e a temer perder clientes porque, nos primórdios, a mensalidade que o cliente tinha de pagar não era revertida em saldo como acontecia e acontece no homónimo da Optimus, o TAG. Adesão em massa de clientes Vodafone ao TAG, mantendo o número-base 91. (E sim, apesar da elevadíssima taxa de desemprego, grande parte da camada jovem tem duas redes móveis [contra mim falo, eu incluída!].)
Entretanto, a Vodafone acorda e resolve seguir o caminho da Optimus, não fosse perder mais clientes. Vá-se lá saber. Entretanto, os tais 10€ revertem em saldo e o cliente acalma-se e lá vai mantendo o velhinho 91. Devo dizer, a esta altura do texto, que nunca me agradou a comunicação externa destes tarifários – tratanto o público-alvo mega-hiper-super-cool como se de estúpidos se tratassem, tal como certos programas infantis ou dobragens do discovery. Mas ainda assim, a diferença de linguagem entre a Vodafone e a Optimus sempre foi e é surpreendente.
Quantos de nós não deixam passar o prazo de carregamento? Lá recebemos a mensagem de pré-aviso e, entetanto, de suspensão do dito tarifário: “como não carregaste, blablabla”. Ok, conhecemos a regras a priori. A grande diferença, para quem ainda não se apercebeu, é que a Vodafone agora (desde o presente mês) envia a seguinte mensagem, passo a citar: “Como não carregaste não podes comunicar. Se não carregares nos próximos 2 dias, passarás a ter custo de 50cent/dia. Carrega p/voltar a comunicar à borla.”
Estou a imaginar um cartoon onde nos arrastamos, acorrentados às redes móveis e telecomunicações.
Não fui notificada pela Vodafone, em momento algum, das alteração das condições do tarifário extravaganza. Apenas me disseram, por SMS, que para “compensar o aumento do IVA”, a Vodafone “aumentou o meu saldo em cerca de 2%”. Que queridos, só coisas boas... Não precisamos, propriamente, de uma licenciatura em Ciências da Comunicação, uma pós graduação em Relações Públicas e um mestrado em Marketing para compreender que esta SMS parece a maçã envenenada da Branca de Neve.
Se não tenho dinheiro para carregar o telemóvel ou, simplesmente, não quero carregá-lo e a Vodafone me avisa da suspensão do tarifário, tudo bem, eu sei. Se passo a não poder receber chamadas e, eventualmente, ficar assim incontactável pelo não carregamento do cartão durante X tempo, tudo bem, continuo a ter conhecimento das condições e a assumir responsabilidades. A opção (ou falta dela por motivos económicos) continua a ser minha. Desde quando é que a Vodafone pode exercer o PODER AUTORITÁRIO de obrigar os clientes, após dois dias ultrapassado o prazo obrigatório – repito, sem aviso prévio da alteração das condições do tarifário – a pagar 50 CÊNTIMOS POR DIA para manter o cartão activo para apenas poder receber as eventuais chamadas (continuando sem as poder fazer porque não carregamos o telf)?
De notar o tom autoritário e perverso da mensagem em tom da ameaça que deixa o cliente, totalmente, desarmado e apenas com duas opções: fazer o que a Vodafone obriga, carregando o telemóvel e continuando a alimentar este grupo macroeconómico ou deixar de ser cliente. Afinal quem é cliente e quem tem poder de escolha? Desde quando é que permitimos esta inversão do sistema vendedor-consumidor?
Façamos um favor a todos: um dia de luto em que ninguém recorra ao telemóvel para o mercado das telecomunicações se ressentir. O cliente tem direitos e deveres. O cliente somos nós.