A trovoada acontece.
Ocorre.
Vai passando, vai ocorrendo. Passa. Tudo passa.
Até o Agosto mais quente pode ter as nuvens mais cinzentas prontas a libertar. E como sabe bem libertar.
E a trovoada deste Agosto traz-nos, por vezes, trovoada dentro de nós. Mas... Tudo passa... Da mesma forma que as formas que os nossos olhos vêem num dia são diferentes noutro dia. Ou diferentes das dos outros. Para uns são moínhos, para outros são gigantes.
Ocorre.
Vai passando, vai ocorrendo. Passa. Tudo passa.
Até o Agosto mais quente pode ter as nuvens mais cinzentas prontas a libertar. E como sabe bem libertar.
E a trovoada deste Agosto traz-nos, por vezes, trovoada dentro de nós. Mas... Tudo passa... Da mesma forma que as formas que os nossos olhos vêem num dia são diferentes noutro dia. Ou diferentes das dos outros. Para uns são moínhos, para outros são gigantes.
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Os meus olhos são uns olhos,
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem lutos e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.
Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.
António Gedeão
In Movimento Perpétuo (1956)